Estação no fundo do mar vigia sismos e formação de tsunamis
16 de Julho de 2007, Jornal de Notícias
No próximo mês entra em funcionamento, pelo período experimental de um ano, uma Estação de Fundo do Mar que vai permitir detectar, a sudoeste de Sagres, actividade sísmica e eventual formação de ondas gigantes. Financiado pela União Europeia, o projecto, completamente automatizado, ajuda a lançar as bases para o futuro sistema de alerta de tsunamis no Atlântico e Mediterrâneo, cuja discussão deverá este semestre conhecer avanços significativos. O tema foi eleito como uma das prioridades da presidência portuguesa na área da Protecção Civil e será debatido, até quarta-feira, num seminário que se realiza no Algarve. Esta é, contudo, uma discussão com múltiplas frentes e que se arrasta há dois anos. A primeira iniciativa partiu da Unesco, cuja Comissão Oceanográfica Intergovernamental criou em 2005 um grupo de trabalho que já realizou três reuniões.A quarta irá decorrer em Lisboa, de 14 a 16 de Novembro, explica Mário Ruivo, que preside ao comité português. "O seminário no Algarve, ao nível técnico, é útil mas tem estatuto preparatório", sublinha. A Comissão Europeia vai apresentar, durante o seminário, um plano de acção que visa precisamente contribuir para a iniciativa da Unesco.Para simplificar o que está em causa, de certa forma podem identificar-se quatro níveis, em torno dos quais foram estruturadas as intervenções do seminário que hoje arranca. Antes de mais, a existência de uma rede sustentada de detecção de sismos, a que se junta a componente de observação do mar e detecção de ondas gigantes. Estes dois níveis são geridos, em Portugal, pelo Instituto de Meteorologia, a quem cabe, em caso de emergência, fazer previsões de horas de chegada de um maremoto a vários pontos da costa. Os dois passos seguintes, o alerta propriamente dito e a preparação da população sobre como agir, estão nas mãos da Autoridade Nacional de Protecção Civil.A iniciativa da Unesco, explica Mário Ruivo, está ainda na fase de "formulação de metodologias e de optimização de soluções tecnológicas", porque as redes e bases de dados de cada país banhado pelo Atlântico-Nordeste e Mediterrâneo "terão de ser compatíveis entre si".Dentro de portas, o trabalho de formiga tem vindo a ser feito. Fernando Carrilho, chefe de Divisão de Sismologia do Instituto de Meteorologia e membro do grupo de trabalho da Unesco, garante estar em velocidade cruzeiro a instalação da nova rede sismográfica nacional de banda larga. "São sensores adequados à detecção à escala global, capazes de detectar sismos acima de 4,5 na escala de Richter, em qualquer ponto do mundo", explica.Neste momento estão a funcionar oito destas novas estações, todas no território continental. Faltam mais seis no Continente, igual número nos Açores e duas na Madeira (estas com instalação prevista para depois do Verão). O projecto deverá ficar finalizado em 2008.Outra componente "muito importante" do futuro sistema são os chamados marégrafos, equipamentos de observação junto à costa detidos pelos institutos Hidrográfico e Geográfico Português. A centralização da informação será feita pelo Instituto de Meteorologia que, segundo Fernando Carrilho, "numa primeira fase" está a contar utilizar dois marégrafos. Quanto à estação de fundo do mar, ficará na zona dos mal-amados Banco de Gorringe e falha Marquês de Pombal, fontes possíveis de tsunamis.Estação no fundo do mar vigia sismos e formação de tsunamis Algarve, região de risco, terá plano de acção em 2008O Algarve é a zona do país mais vulnerável em caso de maremoto. A razão é simples, salienta Fernando Carrilho, do Instituto de Meteorologia "É a região com maior proximidade em relação às fontes mais prováveis de tsunamis, por isso há menos tempo para avisar as populações".Esse nível elevado de risco justifica a elaboração de um plano de acção para tsunamis no Algarve, que a Autoridade Nacional de Protecção Civil conta concluir até Março do próximo ano. Todo o trabalho de planeamento e criação de um sistema de alerta precoce só dará, contudo, frutos se for acompanhado de acções de sensibilização e preparação da população sobre como agir. Isso mesmo é salientado por Carlos Mendes, que coordena a equipa de missão para a Protecção Civil criada para o período da presidência da UE. "Essa é uma questão essencial que iremos debater no terceiro dia do seminário", explica. Há países que identificam locais seguros para abrigo e sinalizam os melhores trajectos de evacuação. Foram igualmente convidados e participam no encontro responsáveis pelos sistemas de alerta já existentes (incluindo o "pai" do mais desenvolvido, o do Pacífico), para debater o "estado da arte" (ver destaque à direita).
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