Fuga de cérebros e asfixia financeira das universidades
7 Setembro 2007, Jornal de Negócios
Existe um número crescente de doutorados portugueses no estrangeiro que não encontram qualquer oportunidade nas universidades portuguesas, cuja crescente asfixia financeira quase não permite fazer contratações ou sequer investigar. O país investiu fortemente na qualificação destas pessoas, que agora deixa escapar.
Ter boas universidades e bons cientistas não é um luxo, mas antes um factor decisivo para a economia de um país.
Nos últimos 20 anos, Portugal investiu milhões na formação de doutorados no estrangeiro. O regresso da primeira geração destes doutorados teve um impacto enorme na renovação das universidades portuguesas, estimulando quem já estava no sistema, contribuindo para importantes mudanças no ensino e para o forte aumento da produção científica em Portugal. O processo de renovação do ensino superior português foi, no entanto, interrompido a partir do início do novo século.
Num momento em que tanto se fala na importância do conhecimento e em atrair para Portugal os melhores cientistas, existem pessoas que conseguem obter lugares nas mais prestigiadas universidades europeias ou dos EUA, mas aos quais as universidades portuguesas, mesmo que queiram e mesmo que os consigam convencer a regressar, não podem oferecer um lugar. Este não é um problema de hoje, dura já há pelo menos cinco anos e tudo indica que poderá durar uma década. Será, neste aspecto, uma década perdida.
Na raiz deste desperdício está a ideia de que Portugal já gasta demasiado com o seu sistema de ensino superior. Uma ideia falsa. O país tem um importante atraso nesta área e gasta menos de um por cento do PÝB com o ensino superior, um valor abaixo da media europeia de 2000, e que desde então apenas tem descido. E que é claramente abaixo dos gastos de países como a Suécia, a Dinamarca ou a Finlândia, tantas vezes citados como exemplo, e que investem mais de dois por cento do respectivo PÝB no seu ensino superior.
Este é, sem dúvida, um exemplo de má gestão de um recurso tão escasso em Portugal como são as qualificações, onde o país investe pouco e o que investiu, agora, não está a saber aproveitar.
Este é também um problema de competitividade. Ter boas universidades e bons cientistas não é um luxo, mas antes um factor decisivo para a economia de um país. O discurso do actual governo reconhece esta realidade. Os investimentos anunciados para trazer o MIT e para outros projectos de cooperação internacional são passos que podem ser considerados interessantes.
Mas nada disto faz sentido se o país não conseguir atrair e fixar pelo menos alguns dos seus melhores académicos, e se as universidades portuguesas não poderem continuar a melhorar, afirmando-se como parceiros interessantes e vivos, e não como instituições quase falidas à espera de ficarem envelhecidas.
As nossas melhores universidades têm conseguido afirmar-se como instituições de qualidade a nível europeu. Por exemplo, na área de economia, Portugal tem cinco escolas entre as 25 melhores da Península Ibérica, área em que existem mais de duzentos departamentos (ver http://investigacion.universia.net/isi/isi.html), uma posição em termos de qualidade proporcional á dimensão dos dois países. Posição que era interessante manter ou melhorar, mas que corre o risco de se perder, se se mantiver a política de desinvestimento no ensino superior de qualidade.
Numa altura em que as universidades espanholas apostam em trazer alguns dos melhores professores americanos e europeus, e em atrair jovens doutorados de qualidade, algumas das melhores universidades portuguesas estão a racionar fotocópias, não têm dinheiro para financiar deslocações dos seus docentes sequer dentro do país ou para convidar professores estrangeiros a vir a Portugal. E têm ainda uma falta gritante de pessoal de apoio, funcionam com muitos computadores com mais de oito anos, que qualquer empresa de vão de escada teria ja enviado para a sucata. Curiosamente, quem trabalha nestas condições são alguns dos trabalhadores mais qualificados do país.
Neste contexto, o estranho é que novos investigadores queiram vir para Portugal. A verdade é que alguns querem, e nem esses podemos contratar. Se esta situação se prolongar por uma década o lugar conquistado pelas nossas universidades nos últimos anos pode ser posto em causa.
Dez anos a desinvestir e sem renovação dos quadros é demasiado tempo, interrompendo o processo de renovação das universidades e desincentivando os melhores alunos a seguirem a carreira académica. Isto é um verdadeiro tiro no pé, de um pais ainda coxo. Situação que tem de começar a ser invertida já, não nos discursos, mas no orçamento de estado de 2008.
Ter boas universidades e bons cientistas não é um luxo, mas antes um factor decisivo para a economia de um país.
Nos últimos 20 anos, Portugal investiu milhões na formação de doutorados no estrangeiro. O regresso da primeira geração destes doutorados teve um impacto enorme na renovação das universidades portuguesas, estimulando quem já estava no sistema, contribuindo para importantes mudanças no ensino e para o forte aumento da produção científica em Portugal. O processo de renovação do ensino superior português foi, no entanto, interrompido a partir do início do novo século.
Num momento em que tanto se fala na importância do conhecimento e em atrair para Portugal os melhores cientistas, existem pessoas que conseguem obter lugares nas mais prestigiadas universidades europeias ou dos EUA, mas aos quais as universidades portuguesas, mesmo que queiram e mesmo que os consigam convencer a regressar, não podem oferecer um lugar. Este não é um problema de hoje, dura já há pelo menos cinco anos e tudo indica que poderá durar uma década. Será, neste aspecto, uma década perdida.
Na raiz deste desperdício está a ideia de que Portugal já gasta demasiado com o seu sistema de ensino superior. Uma ideia falsa. O país tem um importante atraso nesta área e gasta menos de um por cento do PÝB com o ensino superior, um valor abaixo da media europeia de 2000, e que desde então apenas tem descido. E que é claramente abaixo dos gastos de países como a Suécia, a Dinamarca ou a Finlândia, tantas vezes citados como exemplo, e que investem mais de dois por cento do respectivo PÝB no seu ensino superior.
Este é, sem dúvida, um exemplo de má gestão de um recurso tão escasso em Portugal como são as qualificações, onde o país investe pouco e o que investiu, agora, não está a saber aproveitar.
Este é também um problema de competitividade. Ter boas universidades e bons cientistas não é um luxo, mas antes um factor decisivo para a economia de um país. O discurso do actual governo reconhece esta realidade. Os investimentos anunciados para trazer o MIT e para outros projectos de cooperação internacional são passos que podem ser considerados interessantes.
Mas nada disto faz sentido se o país não conseguir atrair e fixar pelo menos alguns dos seus melhores académicos, e se as universidades portuguesas não poderem continuar a melhorar, afirmando-se como parceiros interessantes e vivos, e não como instituições quase falidas à espera de ficarem envelhecidas.
As nossas melhores universidades têm conseguido afirmar-se como instituições de qualidade a nível europeu. Por exemplo, na área de economia, Portugal tem cinco escolas entre as 25 melhores da Península Ibérica, área em que existem mais de duzentos departamentos (ver http://investigacion.universia.net/isi/isi.html), uma posição em termos de qualidade proporcional á dimensão dos dois países. Posição que era interessante manter ou melhorar, mas que corre o risco de se perder, se se mantiver a política de desinvestimento no ensino superior de qualidade.
Numa altura em que as universidades espanholas apostam em trazer alguns dos melhores professores americanos e europeus, e em atrair jovens doutorados de qualidade, algumas das melhores universidades portuguesas estão a racionar fotocópias, não têm dinheiro para financiar deslocações dos seus docentes sequer dentro do país ou para convidar professores estrangeiros a vir a Portugal. E têm ainda uma falta gritante de pessoal de apoio, funcionam com muitos computadores com mais de oito anos, que qualquer empresa de vão de escada teria ja enviado para a sucata. Curiosamente, quem trabalha nestas condições são alguns dos trabalhadores mais qualificados do país.
Neste contexto, o estranho é que novos investigadores queiram vir para Portugal. A verdade é que alguns querem, e nem esses podemos contratar. Se esta situação se prolongar por uma década o lugar conquistado pelas nossas universidades nos últimos anos pode ser posto em causa.
Dez anos a desinvestir e sem renovação dos quadros é demasiado tempo, interrompendo o processo de renovação das universidades e desincentivando os melhores alunos a seguirem a carreira académica. Isto é um verdadeiro tiro no pé, de um pais ainda coxo. Situação que tem de começar a ser invertida já, não nos discursos, mas no orçamento de estado de 2008.
8.9.07
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Ensino Superior
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