Falsificações de pesquisas mancham crédito da ciência
18 de Setembro de 2007, Jornal de Notícias
Artigos científicos copiados, descobertas anunciadas sem fundamento laboratorial isto também acontece entre uma comunidade mundial que vive muito dos contactos, intercâmbios e exposição do seu trabalho. Há investigadores que não resistem à pressão para que apresentem resultados ou à avidez de fama. Por norma, são desmascarados, mas a simples ocorrência desses casos minoritários leva a comunidade científica a interrogar-se como garantir uma ciência íntegra. A primeira conferência mundial sobre este tema está, agora, a decorrer em Lisboa."Como impedir a actuação dessas ovelhas negras que violam as normas científicas?". A pergunta foi ontem enfatizada pelo secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) perante os cerca de 300 participantes da conferência "Integridade da Investigação Científica". Angel Gurría, que falava no Auditório 2 da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, já tinha enunciado danos causados por "quem quer fama e fabrica resultados" há os prejuízos económicos, o logro nas expectativas de descobertas que seriam úteis à humanidade e a nódoa lançada à idoneidade dos cientistas. No espaço da OCDE eles são agora quatro milhões, num crescendo desde há 25 anos, não sendo já, portanto "um grupo restrito de idealistas". Ainda está por esclarecer totalmente o que se passou com o sul-coreano Hwang Woo-Suk, que há três anos afirmava ter obtido células estaminais a partir de embriões humanos clonados. Terá forjado processos e conclusões, foi demitido da universidade, penitenciou-se. Mas, ainda há pouco tempo, surgiam notícias de que, afinal, alguma coisa ele tinha avançado na pesquisa celular.Os casos de ludíbrio, seja por cópia de artigos científicos ou invenção de resultados, são uma gota de água, como afinal provam os números de um órgão que funciona no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, norte-americano, o Office of Research Integrity (ORI). O conferencista Paul David indicou que, entre as 3.571 denúncias de fraude entre 1994 e 2006, foram provadas 165. A grande maioria foi arquivada. A maioria dos "falsificadores" eram pessoas a fazer o pós-doutoramento. Paul David adianta uma explicação naquele estatuto, quase todos estão em condições precárias e sob muita pressão para produzirem resultados. Anfitrião da conferência, já que esta ocorre no âmbito da presidência portuguesa da UE, José Mariano Gago admitiu "não ser politicamente correcto" dar ali a sua opinião sobre o problema. Mas lá foi dando. Assim "Não acataremos a criação de uma nova burocracia que conduza à passagem de certificados de integridade". Mais tarde, diria aos jornalistas considerar "absurdo reduzir a comunidade científica a uma norma", dado o leque diversificado de especializações". Defendeu ainda o ministro da Ciência e Tecnologia que "a ciência mostrou que o controlo das instituições umas pelas outras e que o controlo exercido pelos próprios cientistas é suficiente para regular". Ainda segundo Gago, a fraude "não é uma questão política, é pessoal e muito rara, sendo errado dramatizá-la no âmbito da política de ciência". O comissário europeu da Investigação, Janez Potocnik, garantiu que os projectos de pesquisa apoiados por fundos comunitários são escrutinados desde as candidaturas até aos resultados, numa procura de transparência que garanta também a sua validade, até porque muitos deles servem para fundamentar decisões políticas da União Europeia.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário