Trabalho directo com alunos pouco valorizado na progressão da carreira
28 de Fevereiro de 2007, Diário de Notícias
É mais professor um doutorado que um director de turma? No final da terceira ronda de negociações sobre o concurso para professor titular, o Ministério da Educação disse querer "premiar boas práticas". Só que, segundo os critérios oficiais, um professor com mestrado que queira progredir recebe 15 pontos, enquanto um coordenador de biblioteca só ganha um. Insatisfeitos com esta "subversão" do papel docente - que parece premiado mais pela formação que pelo trabalho com os alunos -, os sindicatos só viram a tutela recuar numa questão: em vez de 120 pontos, os professores terão de alcançar 95 para chegar a titulares."Era inevitável, porque a meta de 120 era praticamente inatingível", afirma Mário Nogueira, da Federação Nacional de Professores (Fenprof). Mesmo assim, adianta, "um professor que tenha dado aulas durante os últimos sete anos sem ter faltado um único dia - ou seja, teve a sorte de não ter ficado doente ou de não lhe morrer ninguém - só consegue 94 pontos".Também a Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE) acusa o ministério de valorizar excessivamente o exercício de cargos. "O ME não tem tido em conta todo o percurso profissional dos docentes, valorizando os últimos sete anos em detrimento de outros cargos e funções que os professores e educadores foram exercendo ao longo dos tempos, para além do trabalho com alunos e comunidade, que não está aqui valorizado", disse a dirigente Lucinda Maria, no final do encontro de segunda-feira com a tutela.Mário Nogueira é mais directo: "São desprezados directores de turma, professores no secretariado de exames, coordenadores de Desporto Escolar, tudo cargos nas escolas que não estão contemplados." Ganham-lhes aos pontos os doutorados, mestrados, presidentes de conselhos executivos. Mas mesmos os presidentes dos conselhos executivos, diz, "só se tiverem exercido nos últimos sete anos, porque se tiverem sido presidentes 16 anos, há 20, não lhes vale de nada, só são levados em conta os últimos sete anos".Para a tutela, tudo está bem: "O ME continuou a valorizar as boas práticas docentes como factor determinante no primeiro concurso de acesso à categoria de professor titular." O secretário de Estado da Educação, Jorge Pedreira, fez saber, em comunicado de imprensa, que o ME pretende "dotar as escolas de um corpo de docentes qualificado e com formação que organize as escolas no sentido do combate ao insucesso e da promoção da inclusão dos alunos". E reafirmou que a tutela quer "premiar os professores que cumprem zelosamente o seu dever de assiduidade".E é precisamente a atribuição de pontos em função da assiduidade que mais revolta os professores. É que, consideram, todas as faltas, mesmo que justificadas, são penalizadoras para efeitos de progressão na carreira. Os docentes que tenham faltado mais de nove vezes num ano lectivo, mesmo que por doença, são classificados com zero pontos no factor da assiduidade.Jorge Pedreira explica que "essas faltas não servem para penalizar os professores, na medida em que o que está em causa são os melhores cinco anos em sete". Assim, "se as pessoas tiverem algum problema durante dois anos podem perfeitamente dispensar esses dois anos". É bom, mas não chega, dizem os professores, que prometem combater este projecto até onde for possível. A tutela diz que quer "premiar boas práticas docentes", privilegiando os que cumprem "zelosamente" o seu dever de assiduidade
19.4.07
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