Quatro mil imigrantes fizeram prova de Português
Vieram de países tão distantes como a Índia, Paquistão, Guiné, Ucrânia, Moldávia, Cabo-Verde, Mauritânia e China. Todos falam um português "à sua maneira", com sotaques mais ou menos compreensíveis, envoltos em véus islâmicos, coloridas túnicas africanas ou estéticas de Leste. A vontade de ser português é o traço que os une na sua diversidade e que levou quase quatro mil imigrantes a submeterem-se, ontem, à prova de língua portuguesa, a última fronteira para adquirirem a nacionalidade com que sonham há vários anos.O fenómeno está para durar, com os pedidos de nacionalidade portuguesa a disparar, passando de 4146 em 2006 para 17 185 no primeiro semestre deste ano, ou seja quatro vezes mais. A que não é alheia a consolidação da comunidade imigrante em Portugal, que já não quer voltar para os seus países de origem.Sentado num banco de jardim da Escola Marquesa de Alorna, em Lisboa, Aly Diallo, um mauritano de 45 anos, aguardava serenamente pelo fim da prova que estava a ser prestada, lá dentro, por alguns compatriotas seus. Apesar de estar em Portugal há já 11 anos, Aly não se sentiu ainda à vontade para prestar provas. "Só no outro ano", promete. Trabalha na construção civil, na Mota & Engil e diz - com um sorriso de humor- que o único português que aprendeu foi "esse português da obra". Um "português" que tem o mundo inteiro lá dentro.Entrar em Portugal "foi fácil" para Aly. Sair já será difícil. "Aqui estou melhor".Às 11.30, uma hora após o início da prova, começaram, enfim, a sair os 220 candidatos - dos 300 inscritos naquela escola -, numa massa de gente que exalava um misto de confiança e apreensão quanto ao resultado do teste. Yuri foi dos primeiros a descer a escadaria, galgando vários degraus de uma vez: "Desculpa estou com pressa, vou trabalhar ainda". Adeus, Yuri. Boa sorte!Não era o caso do guineense Remy Souah Mogbe, que ontem não tinha de ir trabalhar nas obras, abandonando o edifício em plena calma tropical. Em Portugal há sete anos, mas denotando algumas dificuldades de expressão, Remy achou que "a prova difícil não foi", mas reconhece que na parte escrita sentiu mais dificuldades, porque raramente inclui a escrita ou a leitura em português na sua rotina diária. Nem tem tempo para frequentar as aulas de educação de adultos que começam a estar disponíveis a um número cada vez maior de imigrantes.A prova, que ontem decorreu em 73 estabelecimentos de ensino um pouco por todo o país, visa aferir a proficiência em língua portuguesa, que é um dos requisitos para a concessão da nacionalidade. Isto, claro, depois de se ter obtido a autorização de residência.Os homens, com origem indiana e dos países de Leste dominavam claramente o ambiente no recreio da Marquesa de Alorna, onde as mulheres estavam em minoria. Algo que se tem vindo a repetir a nível nacional, pois numa das últimas provas do género, realizadas em Maio, os moldavos (3313), os indianos (1657) e os ucranianos (1057) foram os principais grupos de candidatos à realização da prova.O grupo de amigos do indiano Tirath Rasn, indiano, dividido entre indianos e paquistaneses, era um dos mais divertidos à saída da prova, embora todos, à excepção de Tirath, falassem muito mal a língua de Camões. Vestido em cores garridas, Tirahth foi eleito como o porta-voz do grupo para dizer aquilo que a todos unia: "Trabalhamos em Portugal há vários anos, já passamos pelas obras e agora vendemos um pouco de tudo, desde roupas a telemóveis. Queremos ser portugueses."De comércio e de vendas percebe bem Chen, um chinês de 28 anos, com visual urbano, que chegou com os pais há dez anos a Portugal, e trabalha no ramo do comércio, naquilo a que, nós portugueses - não ele - chamamos de loja de chineses. Só frequentou o ensino português no primeiro ano da sua estadia, depois abandonou. "Português é muito difícil", confessou, acrescentando serem poucos os seus amigos chineses capazes de falar bem. Realidade completamente distinta é a de Petro, ucraniano, de 39 anos. Exibe um português quase irrepreensível, embora nunca o tenha estudado numa sala de aula. Em Portugal há já sete anos, casou e constituiu família com uma conterrânea que conheceu por cá. Não tem dúvidas em afirmar: "Portugal é a minha casa". Agora a meta é falar sem sotaque. "Vou conseguir", diz com absoluta confiança.
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