Os pais devem cuidarde "matematizar" mais com os filhos
5 de Novembro de 2007, Jornal de Notícias
Há 34 anos que se dedica ao ensino da Matemática nos EUA. Começou por trabalhar com crianças mais pequenas, tentando incutir-lhes o gosto por aquela disciplina. Mais tarde, dedicou-se à formação de professores, tornou-se consultor de escolas públicas e privadas e coordenou um programa federal de reforma escolar, influenciando a forma como os alunos americanos aprendiam Matemática.
Larry Martinek veio a Portugal visitar os ginásios de Matemática, dos quais é responsável pedagógico. Ao JN, falou sobre o insucesso retratado nos testes internacionais e avançou com ideias para "ganhar" os alunos para a Matemática.
Jornal de Notícias Os resultados a Matemática nos testes do PISA apresentaram resultados muito fracos, não só em Portugal, mas também nos EUA. Qual a sua explicação para a Matemática ser sempre uma disciplina com resultados baixos?
Larry Martinek Na minha opinião, os maus resultados são fruto de uma combinação entre os conteúdos que são ensinados aos alunos e os métodos de ensino. É que é necessário reflectir sobre isto por que motivo uma percentagem tão pequena consegue, na realidade, perceber a Matemática? Os estudos do PISA revelam que só uma percentagem pequena compreende e consegue aplicar os conceitos matemáticos.
Da sua reflexão, onde acredita que se deve começar a "atacar" para reverter tanto insucesso?
Logo na primeira infância, a partir dos 3 anos, os pais deviam "matematizar" com os filhos."Matematizar" quer dizer o quê?Com esse verbo pretendo falar da tarefa que cabe aos pais de começar a falar sobre Matemática com os filhos. E é tão fácil. É preciso ver que há Matemática em tudo o que nos rodeia.
Mas como podem os pais fazer isso?
Por exemplo, quando andam num elevador, os pais podem mostrar os números e contar com eles. E aqui em Portugal vocês têm a vantagem de terem números negativos nos elevadores, o que permite começar a familiarizar as crianças com esses números. Outro exemplo, é falar com as crianças sobre os pesos, as medidas,as distâncias e as horas. São estas pequenas coisas que são muito importantes para a aprendizagem.
Acredita que resultam?
Tenho a certeza. Ensino Matemática há 34 anos e, nos últimos 20, tenho colaborado com pais, ajudando-os a trabalharem com os filhos em idades muito tenras, de forma a acelerar a aprendizagem. E, na verdade, os miúdos adquirem uma maior proficiência. Não é correcto esperar a escolarização, aos seis anos, para lhes ensinar Matemática. E, em casa, essa aprendizagem baseia-se nos casos concretos da vida real, portanto, aprende-se mais facilmente.
Há pouco disse que alguns métodos de ensino podem não ajudar ao sucesso. Quer exemplificar?
A terminologia usada para explicar nem sempre é acessível, os alunos não entendem. Dou- -lhe um exemplo fui ao barbeiro e ele, numa conversa com um cliente, ouviu falar sobre o número pi e quis saber o que era. O cliente explicou-lhe que era a razão entre o perímetro de uma circunferência e o seu diâmetro.E o barbeiro não percebeu... Claro. Aí eu meti-me na conversa e disse-lhe que se pegasse na distância à volta do círculo e a dividisse pela distância que divide o círculo ao meio ia obter sempre o mesmo número, quer se tratasse de um círculo enorme ou um muito pequeno. Esse número chama-se pi. Moral da história? O que me interessa é que o aluno entenda as coisas primeiro. A terminologia é importante, mas poderá aprendê-la depois.
Quer com isso dizer que a terminologia usada nas aulas pode complicar a aprendizagem?
Sabe? Não é verdade que os alunos não gostam de Matemática. Do que eles não gostam é de se sentirem confusos e embaraçados. A preocupação primeira deve ser tentar fazer com que os alunos compreendam as ideias que estão por detrás do vocabulário. Quando se ensina algo a um aluno de uma forma simples e clara ele entende e fica satisfeito com a experiência de ter aprendido o exercício matemático. E até acabam por achar a Matemática divertida...Se permitirmos aos alunos pequenos sucessos dia-a-dia, à medida que o tempo avança, os alunos conquistam o gosto pela Matemática e acabam dizendo que é divertida. Porque ter sucesso dá prazer.
E, as calculadoras, ajudam?
Só depois de determinado momento. O processo de aprender a somar, subtrair, multiplicar e dividir é básico e não pode ser feito numa máquina.
Então, a partir de quando as podem usar?
A partir do momento em que sabem fazer os cálculos por eles mesmos. Siginifica que a calculadora deve ser usada como uma ajuda para fazer um cálculo, mas não como substituta do conhecimento básico. Se um professor permitir que um aluno do 4.º ano faça multiplicações na calculadora, a criança nunca vai aprender a fazê-las por si mesma.
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