No âmbito do Laboratório de Avaliação da Qualidade Educativa (LAQE), estrutura funcional do Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro, foi criado, em Março de 2007, o presente blogue onde são colocadas, notícias da imprensa da área da Avaliação Educativa. Esta recolha tem como principal finalidade avaliar o impacte, nos mass media, das questões de avaliação educativas.

Professores querem fazer história com maior manifestação de sempre

08.03.2008 - Jornal Público

Quando Luís Lobo, dirigente do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), avisa que é necessário mandar um SMS aos professores a lembrá-los de que devem vestir roupa preta para a Marcha da Indignação, João Louceiro, de 46 anos, endireita-se na cadeira, onde, vencido pelo cansaço, se deixara escorregar. Pela primeira vez na reunião de trabalho, sorri, anima-se: "Oh pá! Na mensagem temos de escrever: "Vamos fazer História." Tem de ser. Porque é verdade", diz.A cena passou-se anteontem, numa das centenas de reuniões preparatórias da manifestação dos professores. O SMS seguiu ontem. E, se tudo tiver corrido como previsto, hoje de manhã, de Norte a Sul do país, João Louceiro e dezenas de outros sindicalistas terão estado na rua, de megafone em punho, a encaminhar quase 40 mil pessoas para 617 autocarros, rumo a Lisboa. Não seria preciso mais para que esta fosse a maior manifestação de professores de sempre. Mas ainda há os de Lisboa, os que vão de comboio, os que preferem viajar de automóvel, os que fizeram questão de não usar os meios de transporte cedidos pelos sindicatos. "É uma loucura de gente. Mais de 60 mil pessoas, talvez quase 70 mil", calculava ontem Mário Nogueira, dirigente da Federação Nacional de Professores (Fenprof). Estava a ser cauteloso, não queria criar falsas expectativas, que viessem a servir ao Governo para desvalorizar o protesto.Há três dias, quando se começou a desenhar este cenário, José Ricardo Nunes, dirigente da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE), não disfarçava o entusiasmo: "Em Outubro de 2006, a ministra da Educação disse que éramos poucos. E desta vez? Ainda vai dizer que isto é um movimento de sindicalistas? Ou vai perceber que não tem condições para se manter no cargo e que a mudança de política é inevitável?", provocava, lembrando a reacção de Maria de Lurdes Rodrigues à manifestação que juntou 25 mil professores, um recorde que pode ser batido hoje.
Protestos por SMS
A adesão dos professores surpreendeu todos. Apesar de ser um sindicalista mais que experiente, foi com assombro que Mário Nogueira assistiu ao crescendo do protesto. De repente, também ele se tornava espectador - a federação que lidera convocou a marcha de hoje a 18 de Fevereiro, mas as primeiras manchetes dos jornais sobre o descontentamento e os argumentos dos professores foram originadas pelas chamadas manifestações espontâneas. Em vários pontos do país, dispensando a organização dos sindicatos, professores organizaram-se, lançaram e responderam a apelos feitos através de SMS, saíram à rua e inventaram palavras de ordem contra o Governo e a ministra da Educação.Os sindicatos corresponderam. Agendaram protestos públicos - vários por dia, em diversos sítios do país, todos eles concorridos e com gente que nunca estivera numa manifestação. E puseram à disposição autocarros para, hoje, levarem os manifestantes até Lisboa. A FNE, como outras organizações da plataforma sindical, limitou a oferta a sócios. A Fenprof abriu as portas a todos e a catadupa de inscrições foi tal que, em jeito de brincadeira, Nogueira chegou a prever que iria à falência com a iniciativa. Não é caso para menos. Uma manifestação destas dimensões é cara.
Custos elevados
"O custo do aluguer dos autocarros varia conforme as empresas ou a distância de Lisboa mas, em média, fica-nos a 500 euros cada um", adiantou Nogueira. Feitas as contas, a Fenprof gasta hoje, só com transportes, mais de 200 mil euros, a FNE 50 mil euros e as restantes organizações outro tanto. Mas a montagem do palco também custa dinheiro. Assim como as faixas, as bandeiras, os autocolantes. "Em compensação, poupamos onde habitualmente se gasta mais, a promoção: nem um anúncio no jornal, nem um outdoor, nem um cartaz, nada! Não foi preciso", sublinhava ontem Mário Nogueira. Na reunião do SPRC, quinta-feira, estudavam-se maneiras de obter receitas. Pelo guião de viagem os responsáveis por cada autocarro do Centro ficaram hoje a saber que discurso adoptar para convencer os passageiros a comprarem, por três euros, uma das 9999 rifas que os habilitam a ganhar uma colectânea de discos de Zeca Afonso e de Adriano Correia de Oliveira. Mais ideias?"Até amanhã conseguimos imprimir 500 T-shirts, não dá para mais. Vale a pena?", pergunta Carlos Gonçalves, director de serviços do SPRC. "Não! Quem é que as vai vender? Onde? O que é que se diz aos outros, que também vão querer?", protesta João Louceiro. "Como não?! Ganhamos mil euros, paga dois autocarros", reage, com firmeza, Luís Lobo. Louceiro resmunga: "Tudo bem, domingo contamos os mortos e os vivos..."
"Um trabalho de doidos"
João Louceiro foi o responsável pela recepção das inscrições dos professores e aluguer dos autocarros no distrito de Coimbra, "um trabalho de doidos", como ele se queixava e as olheiras fundas comprovavam. "Já não sei onde descobrir mais autocarros. Quanto mais longe os vamos buscar, mais caros ficam. E as inscrições continuam a aparecer - mais, sempre mais...", dizia ontem. Nos outros distritos acontecia o mesmo. Enquanto pelo país se organizavam as saídas, em Lisboa as preocupações da plataforma sindical eram outras. Depois de ter mudado pela segunda vez o destino final na Marcha (que assentou no mais espaçoso Terreiro do Paço), tratava-se de organizar a entrada de mais de 600 autocarros. Acordou-se com a PSP que não estacionam junto ao Marquês: "Despejam as pessoas e pronto." Cada grupo é largado numa artéria diferente de acesso ao largo: numa os de Lisboa, noutra os que partiram do Centro, e por aí adiante. Cada um desses grupos irá incorporar a marcha pela mesma ordem. Pelo menos é o que vão tentar garantir sindicalistas. Cabe-lhes travar os manifestantes, fazê-los entrar no momento certo, marcar a cadência da marcha. Como não se cansam de lembrar os dirigentes nas reuniões preparatórias, a tarefa não é fácil. Não por serem dezenas de milhares de pessoas, mas porque "muitas nunca estiveram numa manifestação", garantem.

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