No âmbito do Laboratório de Avaliação da Qualidade Educativa (LAQE), estrutura funcional do Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro, foi criado, em Março de 2007, o presente blogue onde são colocadas, notícias da imprensa da área da Avaliação Educativa. Esta recolha tem como principal finalidade avaliar o impacte, nos mass media, das questões de avaliação educativas.

Os alunos que riem e profs que calam

24 de Março de 2008, Jornal de Notícias

Os alunos da Secundária Carolina Michaëlis que se riam da confrontação da colega com a professora são mal formados? É um caso de bullying? Interrogações e protestos abundam nos jornais, na Internet, nas televisões, desde que se conheceu o vídeo. "Dá-me o telemóvel, já!" - exigia a Patrícia, 15 anos, o corpo crescendo sobre a figura franzina da "velha", na categorização de um aluno. Docente do Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho e investigadora do fenómeno de bullying (processo continuado e sistemático de agressões e/ou humilhações), Ana Tomás de Almeida critica a "dramatização" do caso. As imagens impulsionam a "não desculpar uma situação daquelas", mas devemos ter em conta que é "empolgada por circunstâncias" inexplicadas. Não sabemos o que aconteceu, o que a precipitou. Algo teria irritado a docente em relação à turma ou à aluna? Ou vice-versa? Não diabolizar"Não podemos diabolizar uma aluna, uma professora, uma turma. Seria injusto para as pessoas que protagonizaram a cena que foi filmada" e que ganhou grande visibilidade com a colocação do vídeo no You Tube e profusa replicação em sites, blogues e televisões.Problema de ciberbullying (humilhação através da Internet)? "Não há quaisquer indícios de que se trate de um caso de bullying" e "os dados sobre ciberbullying envolvendo professores e alunos são muito baixos em Portugal - 2 a 3%, contra os 5 a 6% na Europa", diz.Em foco, o comportamento dos alunos. "Os processos de grupo explicam a agressividade e a tensão dos miúdos. Há ali mecanismos de contágio que são normais. Aquele riso é de contágio, mas também é de nervosismo. Há tendência (entre intervenientes) para minimizar a situação, porque 'foi tudo na brincadeira', o que ajuda ao crescendo e explica que ninguém faça nada e que a tensão aumente".Adolescentes descontrolados? "Há situações em que adultos também assistem a agressões gratuitas e também não intervêm", nota. "Não são coisas de miúdos; são coisas que acontecem até em situações laborais, de assédio moral no emprego, de colegas que assistem e nada fazem".Até com o bullying na escola. Professores "são muitas vezes espectadores e muitas vezes nada fazem. Há os que apoiam os agressores e há os que defendem as vítimas. Uma em cada duas vítimas diz que não conta com o apoio dos professores - o que é muito", observa.Acontece que o caso galgou a privacidade da sala. Estudiosa dos usos de novas tecnologias pelos jovens, Ana Tomás de Almeida diz que elas comportam "oportunidades e riscos", mas não crê que o factor tecnológico o tenha agravado. Os alunos que admitem ser agressores não são os que mais registam e divulgam a agressão. Os que captam imagens são espectadores (tem a ver com os papéis no grupo) que dispõem de novas plataformas (blogues, sites de imagens…) para divulgar os acontecimentos do dia. Com que intenção? Na maioria, mera divulgação. Nuns "zero vírgula qualquer coisa", o intuito é a ofensa e a humilhação das pessoas.O sucedido mostra a "necessidade de apostar na educação para os Media, de explicar as consequências da exposição", diz. "Não sei se à pessoa que colocou o vídeo na Internet passaria pela cabeça que atingiria estas proporções". Ou os efeitos, como o pretexto para mais ataques à escola pública ou sustentar que é insegura.

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