"A ciência ainda é um nicho em Portugal"
Henrique V. Fernandes, INVESTIGADOR DO INST. DE MEDICINA MOLECULAR
É o único investigador português a receber uma bolsa no valor de 1,9 milhões de euros do European Research Council. Como vê esta distinção?
É o único investigador português a receber uma bolsa no valor de 1,9 milhões de euros do European Research Council. Como vê esta distinção?
É um grande privilégio ser um dos poucos investigadores europeus [são 201] distinguidos. No panorama nacional é uma verba muito mais elevada do que as geralmente atribuídas no País aos grupos de investigação, o que permite um trabalho de competitividade internacional. Sem este tipo de verbas isso é muito complicado.Do ponto de vista da ciência em Portugal, é mau sinal ser o único português distinguido?Nesta fase foram distinguidos apenas 201 cientistas europeus. Se houver mais verbas, existe a possibilidade de mais um cientista português obter bolsa, o António Jacinto, que é também do Instituto de Medicina Molecular (IMM). Esta bolsa foi-me atribuída pela carreira científica [foi até agora investigador do National Institute for Medical Research, em Londres], mas também porque o IMM é uma instituição científica de topo e com credibilidade. Mas um em 200 é um número baixo e isso revela que, apesar do caminho andado, sobretudo na última década, ainda estamos longe dos países europeus de topo nesta área. Esta será a nota menos boa do acontecimento.
Fazer ciência em Portugal é hoje uma coisa normal, ou ainda falta fazer um caminho nessa direcção?
A ciência e a cultura científica não mudam de um momento para o outro. É preciso aumentar em Portugal a massa crítica, em termos de investigadores e de institutos de investigação de topo internacional, e isso demora uma geração. A situação é muito diferente do que era há dez anos quando deixei Portugal e fui para o estrangeiro. Hoje há um espírito mais criativo e jovem e há mais entusiasmo. E essa foi uma das razões que me levaram a decidir voltar para trabalhar aqui. Mas não diria que já é uma coisa normal fazer ciência em Portugal. Houve a criação dos Laboratórios Associados, com excelência científica, e há bons exemplos de norte a sul do País. Mas é ainda um nicho pequeno e embrionário.
O que falta fazer para mudar essa situação?
As coisas estão a mudar. Mas falta dar a possibilidade aos que estão fora, e que têm muita experiência, de regressarem e porem os seus conhecimentos ao serviço do País e do seu desenvolvimento. Até agora tem-se assistido a um investimento, e bem, na formação das pessoas. Mas depois há um vácuo na possibilidade de regresso. Começa a haver alguns, mas a meta é conseguir uma massa crítica que dê competitividade ao País. A bolsa que ganhou destina-se ao seu trabalho para cinco anos.
Que objectivos espera concretizar?
Queremos compreender as funções de um gene chamado RET nas doenças do sistema imunitário e perceber como pode ser controlado, para podermos intervir em doenças, como por exemplo, a leucemia.
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