No âmbito do Laboratório de Avaliação da Qualidade Educativa (LAQE), estrutura funcional do Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro, foi criado, em Março de 2007, o presente blogue onde são colocadas, notícias da imprensa da área da Avaliação Educativa. Esta recolha tem como principal finalidade avaliar o impacte, nos mass media, das questões de avaliação educativas.

"Devemos incentivar o trabalho e o risco no domínio da Ciência"

30 de Maio de 2007, Jornal de Notícias

Professor no Departamento de Biologia do Beloit College (Wisconsin, EUA), John R. Jungck especializou-se em Evolução Molecular Matemática, história e filosofia da biologia e educação científica. É membro do National Institute of Science Education e da American Association for the Advancement of Science. Está em Portugal para falar de métodos de ensino da Matemática e da Ciência em geral.
Oprofessor Jungck mostra-se um homem sorridente durante a entrevista concedida no dia anterior à sua conferência proferida na Fundação de Serralves. "Uma estética alternativa Arte & Biomatemática". Parece um tema algo esotério, mas o professor descodifica o "básico" que muito interessará aos portugueses preocupados com o insucesso escolar.
Jornal de Notícias Pode explicar a sua teoria dos 3P ?
John R.Jungck O problema do ensino e do currículo em Ciência é, desde há muito tempo, o facto de abordar matérias desactualizadas e sem relação concreta com as nossas vidas. Uma das minhas preocupações é suscitar a curiosidade das crianças, por forma a colocarem questões sobre o Mundo. Nós, professores, devemos ajudá-los a colocar melhores questões. É o primeiro P "problem posing" (saber colocar o problema).
Qual é então o segundo P?
A segunda parte tem a ver com "problem solving" (solução de problemas) nós temos aquela imagem típica de uma maçã a cair na cabeça de Newton ou Einstein com o globo de uma lâmpada. Só um par de génios é que tem momentos únicos. Nós somos todos cientistas. Toda a gente, todos os dias, toma decisões científicas. Devemos desmistificar a Ciência. É preciso uma revolução cultural para que as pessoas percebam que a solução dos problemas parte do trabalho. Einstein disse uma vez que a Ciência era 99% transpiração e 1% inspiração.
Devemos também saber lidar com o falhanço?
Para levar os estudantes à transpiração, devemos incentivar o trabalho e o risco no domínio da Ciência. As experiências falham muitas vezes. Devemos ter a capacidade de ser surpreendidos. Por vezes, são precisas novas articulações de factos e equipamentos.
Está a falar não só da resolução de problemas ao nível da Ciência mais sofisticada, mas também da que é praticada nas salas de aula?
Sim, também estou a falar de práticas diárias na escola. Envolver os estudantes num ambiente de ensino marcado pela cooperação é essencial. Para a Ciência existir numa sociedade democrática participativa, é preciso existir este tipo de tolerância em relação à pluralidade de pontos de vista. A existência de múltiplas práticas ajuda a eliminar a nossa cegueira cultural. No entanto, a regra é que parece haver só uma resposta certa.
Preocupa-se também com a geografia da sala de aula?
Oponho-me muito ao tipo de ensino em que o professor está acima do aluno. Nós estamos a ajudar a produzir boa Ciência, o que não nos autoriza a pré-determinar as soluções.
É céptico em relação ao uso excessivo de tecnologia no ensino?
Sou simultaneamente um homem da tecnologia e um dos seus críticos. Na maior parte dos casos, a relação das pessoas com a tecnologia tem a ver com uma mistificação. Guiamos um belo carro, temos um computador ou sistema estereofónico, mas não sabemos muito bem como tudo funciona. Estamos deliciados com tudo o que a tecnologia nos traz, mas não queremos compreendê-la. A tecnologia é uma ferramenta poderosa que estamos a colocar nas mãos dos estudantes, mas só para ajudá-los a resolver problemas.
Não queremos que a tecnologia seja o epíteto da contra-educação.
Prefere então métodos mais laboratoriais?
Técnicas de investigação criativas e analíticas. Não precisa de ser num laboratório sofisticado. Por vezes, ensino com base numa árvore. "Vamos contar os ramos", digo eu aos meus alunos. Eles começam a compreender e então eu introduzo a noção de fractais. Eles percebem então que um conjunto pequeno de regras serve para explicar muita da beleza neste Mundo. "Nunca o teria visto se não tivesse acreditado", afirmou um paleontólogo. A teoria é como uma lente de um fótografo que nos ajuda a ver a realidade.
Nos EUA, há problemas de sucesso escolar na Matemáticas ou Ciências?
Estamos dependentes da importação de talentos provenientes de outros países. Temos poucos estudantes a enveredar pelas Ciências, Matemática ou Engenharia. Parece que matámos aquela curiosidade típica das crianças.
Qual é o terceiro P da sua teoria?
Persuasão dos nossos pares. Temos de convencer os colegas de que a nossa ideia é válida. Muitos estudantes obtêm boas notas ao passar pelo sistema de ensino tradicional, mas não gostam quando estão em ambientes de investigação. Deixa de haver respostas fáceis. Há que procurar ideias novas com muita transpiração. Pode ser desanimador para alguns não obter resultados imediatos, mas eu acho que isso é algo de exultante. Gosto de voltar todos os dias ao trabalho.

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