No âmbito do Laboratório de Avaliação da Qualidade Educativa (LAQE), estrutura funcional do Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro, foi criado, em Março de 2007, o presente blogue onde são colocadas, notícias da imprensa da área da Avaliação Educativa. Esta recolha tem como principal finalidade avaliar o impacte, nos mass media, das questões de avaliação educativas.

Um nível que procura identidade própria

27 de Junho de 2007, Jornal de Notícias

Professor único e escola a tempo inteiro. São as mais recentes medidas anunciadas pelo Ministério da Educação para o 2º ciclo. Um ciclo de "charneira", "indefinido" e um pouco "indeterminado", que anda em busca da sua "identidade", como diz Fernando Nunes, da Associação de Professores de Matemática. Agora que o ano lectivo findou, é tempo de o descortinar e mostrar o que lhe faz falta e do que não precisa.Para Fernando Nunes, há que definir uma identidade para estes dois anos do percurso escolar. São dois anos de indefinição, em que a escola umas vezes se alia ao 1º ciclo, outras vezes dialoga mais com o 3º. "Integra o Plano de Acção para a Matemática, tal como o 3º ciclo, e o plano de formação contínua de professores de matemática, tal como o 1º ciclo. Voltou a ser associado ao 1º ciclo, recentemente, com o anúncio do professor único", diz.Professor únicoO Ministério da Educação, através do novo regime jurídico de habilitação profissional para a docência, prevê que um só professor possa dar as aulas de português, matemática, história, ciências e geografia no 2º ciclo. Só escapam as línguas, a educação física e a educação visual e tecnológica.Segundo a ministra, o objectivo é atenuar o choque que os alunos sentem na transição do 1º para o 2º ciclo. Embora reconhecendo que esse choque existe, Fernando Nunes não vê grande vantagem na medida. "O choque passará a ocorrer na passagem do 2º para o 3º ciclo", diz, manifestando reservas quanto à capacidade de um só professor para (bem) leccionar todas essas disciplinas. Também Augusto Pascoal, dirigente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, mas que fala enquanto professor aposentado com uma experiência de 34 anos de docência, se mostra renitente. "Não é desejável, afirma, não há nenhum professor capaz de ser tão generalista". Para Augusto Pascoal, "As escolas deveriam ter, isso sim, mesmo as do 1º ciclo, equipas pluridisciplinares, com psicólogos, sociólogos, assistentes sociais, etc". Com o professor único, o Ministério pretenderá, provavelmente, "economizar". Mas, "se entendemos a educação como uma despesa, então, qualquer dia até podemos dispensar o professor. Pela internet, faz-se tudo", ironiza.Progresso pedagógicoA componente pedagógica ou, melhor dizendo, a ausência dela, é, para Pascoal, o "principal problema" do sistema educativo e também do 2º ciclo. "As crianças têm de aprender fazendo, em aulas teóricas e, essencialmente, em aulas práticas". A aula tradicional, "ainda tão utilizada, nunca fez sentido nenhum e hoje faz ainda menos". As crianças familiarizam-se com os computadores a partir dos seis, sete anos e a escola não o pode ignorar. "Tem de ter bons centros de documentação, computadores, etc".A componente pedagógica é pouco acarinhada na formação inicial dos professores, mas é na formação contínua que é preciso apostar. "O Ministério da Educação tem uma agenda para os concursos, estatuto da carreira docente, etc, mas está ausente nesta matéria. Não há uma agenda pedagógica", critica.Provas de aferição são um diagnóstico do sistemaA falta de uma agenda pedagógica é a explicação apontada para a discrepância de notas na disciplina de matemática entre o 1º e o 2º ciclo, nas provas de aferição. Provas que existem desde 2001, mas foram este ano alargadas a todo o país (ver texto na página ao lado). A título pessoal, o dirigente sindical Augusto Pascoal alerta para o facto de que "as provas de aferição devem ser entendidas como um diagnóstico". São, assim, a maneira de conseguir "perceber o que se passa e permitir que actuemos".No limite, são importantes para que "cada escola e cada professor se conheça melhor a si próprio". A forma como, este ano, vão ser tratados os resultados dessas provas (cada escola receberá relatórios detalhados por turma), irá, segundo Augusto Pascoal, permitir esse tipo de diagnóstico e intervenção. "Esta ministra é determinada, não se conforma com o que se passa no sistema de educação e tem razão", elogia, aplaudindo, igualmente, o programa escola a tempo inteiro, outra das medidas implementadas por Maria de Lurdes Rodrigues."É essencial. Não faz sentido que as crianças tenham de sair da escola porque não cabem lá e porque há outras que precisam de entrar". A redução da população estudantil, em seu entender, já nem justifica esta situação. A escola a tempo inteiro, contudo, não pode ser um mero "depósito de crianças". Segundo o professor, o número de aulas em actividades curriculares deve manter-se, ocupando-se as restantes horas "com actividades culturais e de desenvolvimento da própria criança". A escola a tempo inteiro é essencial, "desde que vá no sentido da criança sentir que lá é feliz".

0 comentários: