No âmbito do Laboratório de Avaliação da Qualidade Educativa (LAQE), estrutura funcional do Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro, foi criado, em Março de 2007, o presente blogue onde são colocadas, notícias da imprensa da área da Avaliação Educativa. Esta recolha tem como principal finalidade avaliar o impacte, nos mass media, das questões de avaliação educativas.

"Tecnologia não é um substituto para conhecimento das Ciências"

27 de Junho de 2007, Jornal de Notícias

"A tecnologia não é um substituto ao conhecimento da Matemática e das Ciências, mas é algo que, quando suportada por uma boa preparação naquelas áreas, pode ter um impacto real no desenvolvimento económico de uma nação", disse ao JN, William Schmidt, co-director do "Education Policy Center"e de um projecto da Universidade do Michigan com influência na definição das políticas educativas dos EUA. O aviso referia-se ao Plano Tecnológico português."Educação da investigação às políticas". Este foi o tema da conferência de Schmidt, ontem à noite, na Fundação de Serralves. Antes, porém, Schmidt dispôs-se a falar com o JN sobre matérias tão diversas quanto a avaliação ou a importância dos bons programas (currículos) nas áreas das Ciências e da Matemática, complementados sempre por professores com sólida formação.
"Não ouvi falar do Plano Tecnológico, mas, presumindo do que se trata, devo dizer que, por muito grande que seja o esforço de uma sociedade no sentido de os seus cidadãos usarem a tecnologia, não deixa de ser essencial uma preparação pré-universitária sólida e profunda", alerta o especialista. A instabilidade dos programas é um mal que tem afectado o ensino pré-universitário português, nomeadamente no Secundário. Tanto assim que, no ano lectivo que está agora a terminar, houve exame único de 12.º ano às nove disciplinas comuns a duas reformas curriculares (1989 e 2004) e a três alterações programáticas.
Os programas das disciplinas são o problema principal ou a questão reside mais na qualidade dos professores?
Segundo Schmidt , todos os dados disponíveis apontam no sentido de que os programas são o ponto essencial, embora a questão não se esgote nesse aspecto."A qualidade da preparação dos docentes possiblita-lhes ensinar bem os programas, o que não deixa de ser importante. Por outras palavras, bons professores precisam de ter bons programas em vigor para que o seu ensino seja mais produtivo. Todos os estudos internacionais apontam no sentido de que os métodos de ensino não são o nó górdio do ensino. O problema reside claramente nos programas e no conhecimento dos mesmos pelos professores".
"Qual é a sua impressão sobre os programas das disciplinas em Portugal, nomeadamente quando comparados com os dos EUA?", questionámos.
Schmidt refere o trabalho feito no "Third International Mathematics and Science Study", em 1995. "Os programas em Portugal são claramente mais focados e coerentes do que nos EUA. No entanto, Portugal não estava ainda totalmente em linha com os padrões internacionais que nós estabelecemos".
No início do ano lectivo que agora termina, o Governo português investiu num Plano de Acção para a Matemática nos níveis pré-universitários. As escolas tiveram acesso a mais computadores e material vário, criando-se também mais mecanismos de apoio docente aos alunos com maiores dificuldades. Questionado sobre os potenciais efeitos efeitos da medida, o especialista norte-americano lança alguns alertas "Esses esforços só irão produzir resultados se combinados com dois elementos primários - programas bem focados, rigorosos e coerentes e professores com bom nível de conhecimento dos currículos e das matérias. Por exemplo, os professore de Matemática precisam de ter um domínio completo do programa, mas devem também ter conhecimentos mais avançados que rodeiam e suportam os elementos mais básicos".
Avaliações ineficazes Quais serão os principais erros cometidos nos processos de avaliação em Ciências ou em Matemática?
William Schmidt considera que as avaliações baseiam-se demasiadas vez naquilo que é facilmente mensurável, isto é, em factos ou algoritmos. Tanto em Matemática como em Ciências, o que interessa quando se avalia é olhar para o raciocínio utilizado pelo estudante para resolver os problemas. As avaliações resultam normalmente na soma das cotações das respostas. "Muitos testes não medem essa capacidade, tendendo para avaliar a abilidade, motivação ou classe social em vez de reflectir a aprendizagem".Antes de avaliar, há que ensinar e aprender. "Não conheço os problemas em Portugal. No entanto, os estudos internacionais indicam que um bom ensino é influenciado pelo grau de preparação dos professores. Os docentes têm de ter um conhecimento aprofundado, podendo dessa forma dar oportunidades de aprendizagem aos seus alunos que não se resumam a fórmulas simples muito baseadas na memorização de factos e de algoritmos. "Um docente conhecedor sem um bom programa não deverá ser capaz de produzir boas condições de aprendizagem para um estudante médio".

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