Uso de calculadoras divide especialistas
As alterações ao programa de Matemática do Ensino Básico prevêem o uso das calculadoras desde o 1.º ciclo. A questão não é consensual entre professores e especialistas.
A proposta para o reajustamento do programa da disciplina de Matemática, cuja discussão pública termina amanhã, estipula que, "ao longo de todos os ciclos, os alunos devem usar calculadoras e computadores na realização de cálculos, na representação de informação e na representação de objectos geométricos".Para a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), o incentivo à utilização das máquinas de calcular desde os primeiros anos de escola pode ser arriscado, já que "o seu uso indiscriminado faz perder a destreza de cálculo"."Este reajustamento do programa insiste demasiadamente na máquina de calcular e não coloca qualquer limitação ao seu uso. O ensino da Matemática é sobretudo o ensino do pensamento, pelo que os elementos essenciais devem continuar a ser o papel e o lápis", disse à Lusa Nuno Crato, presidente da SPM.Ressalvando que aqueles instrumentos "não devem ser completamente afastados do Ensino Básico", o especialista defende uma utilização selectiva e apenas como "um auxiliar do ensino, nunca como uma peça central".Já Joana Brocardo, da Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação, defende a proposta, considerando que "nos dias de hoje usar a calculadora começa a ser como usar os dedos". "A questão é usar a calculadora de forma inteligente, do ponto de vista educativo. O documento impõe a importância do cálculo e prevê que os alunos disponham de um conjunto alargado de formas de calcular, sendo que a máquina calculadora é apenas uma delas", explica.Segundo a responsável, que acompanhou o grupo de trabalho encarregue da elaboração da proposta, o reajustamento define as situações em que deve ser utilizado aquele instrumento, estipulando que na antiga primária o recurso à calculadora deve ser feito na resolução de problemas em que "o essencial não é a forma de cálculo, mas sim a aprendizagem matemática que a tarefa envolve".Em relação ao 2.º ciclo, o documento defende que o uso da calculadora "permite a realização de experiências com padrões e o trabalho com situações reais que, de outra forma, pela sua morosidade, seriam difíceis de concretizar".A presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), Rita Bastos, partilha a opinião e dá um exemplo prático: "Para os alunos perceberem os múltiplos de cinco o melhor é recorrerem à calculadora porque vêem todos os números aparecer e isso permite-lhes identificar o padrão, percebendo que todos acabam em zero ou cinco". "Sem calculadora isso seria muito mais difícil porque seriam necessários muitos cálculos", explica Rita Bastos, defendendo que as máquinas "têm de ser utilizadas no Ensino Básico, mesmo no 1.º ciclo, mas não indiscriminadamente e sem substituir o cálculo mental".Em discussão pública desde Julho e até quinta-feira, a proposta de reajustamento introduz alterações ao programa de Matemática do Ensino Básico em vigor desde o início da década de 1990.
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