Um terço dos alunos não acaba o curso no prazo
Um em cada três estudantes do ensino superior não termina o curso em que ingressa dentro do prazo previsto. A taxa de insucesso escolar nas instituições públicas ronda os 35%, se consideradas as repetições de ano e as desistências, de acordo com dados oficiais relativos ao ano lectivo de 2004/2005. Significa isto que um terço dos alunos demora mais anos que os necessários para concluir os estudos, troca de licenciatura a meio do percurso académico ou, pura e simplesmente, desiste.Tomando como referência as estatísticas oficiais de 2005, compiladas pela Universidade de Lisboa, 80% dos alunos conseguem concluir os seus estudos no tempo devido ou um ano depois. Dez por cento demoram dois anos mais do que o necessário e outros dez por cento só conseguem obter a sua licenciatura três ou mais anos após o prazo regulamentar. Embora aqueles valores representem uma melhoria substancial face ao cenário vivido há 40 anos, quando o insucesso era a regra - afectando 64% da população universitária portuguesa -, traduzem, ainda assim, uma realidade preocupante. Mais do que isso, intrigante. Isto, "porque as estatísticas estão longe de explicar tudo e subestimam a evolução dos percursos pedagógicos dos alunos de hoje, que, mais do que no passado, se caracterizam pela não linearidade", conclui a socióloga da educação, Maria Manuel Vieira."Muitos alunos quando ingressam no meio universitário, sobretudo no primeiro ano, ainda estão numa fase exploratória. Seja porque - por via do constrangimento do numerus clausus - não conseguiram entrar na sua primeira opção, seja porque entretanto descobriram novos caminhos de realização que não passam pela licenciatura que escolheram", observa aquela investigadora do Instituto de Ciências Sociais.
As razões do insucesso
Conhecer as causas do "insucesso" por trás das estatísticas é o objectivo do Observatório dos Percursos Estudantis, criado em 2006 pela reitoria da Universidade de Lisboa. A coordenadora científica daquele projecto, Ana Nunes de Almeida, sustenta que "tão importante como o seu rigor científico, é, para a universidade, conhecer as condições socioeconómicas, os percursos e as motivações dos seus alunos". Por isso, em 2006, foram aprofundados os inquéritos a alunos que tinham abandonado os cursos nas faculdades onde se matricularam e que, por essa razão, figuravam nas estatísticas do "insucesso". "Ficámos muito surpreendidos quando muitos desses alunos, depois de saberem que estavam catalogados como casos de insucesso escolar, se mostraram bastante incomodados com tal rótulo, considerando, pelo contrário, que eram bem sucedidos porque tinham conseguido mudar para outro curso que lhes trazia maior realização pessoal", explica a pró-reitora.A procura da realização pessoal não é, no entanto, uma prerrogativa ao alcance de todos. Mais uma vez, as estatísticas mostram que os estudantes de contextos sociais favorecidos têm mais tendência a um certo experimentalismo vocacional do que os que não gozam do mesmo privilégio.Uma análise das dinâmicas de mobilidade no interior de cada faculdade da Universidade de Lisboa no ano lectivo de 2003/2004 mostra isso mesmo. Dos alunos que ingressaram no curso de Belas Artes (entre os quais a condição socioeconómica é, por regra, superior), 41,2% acabaram por mudar a sua opção. No outro extremo, o curso de Letras (em que é maior a predominância de alunos provenientes de classes socioeconómicas mais baixas), só 5,8% dos alunos decidiram mudar de curso.Uma explicação para este fenómeno, para além do aconselhamento familiar, poderá estar, segundo a investigadora, na familiaridade com diplomados de múltiplos domínios académicos, a vivência de experiências cosmopolitas, o acesso a informação e também a ausência de pressão para uma rápida inserção no mercado de trabalho.No seu livro, Escola, Jovens e Media, a socióloga Maria Manuel Vieira conclui, assim, que "escolher, ir escolhendo, reequacionar as escolhas feitas no decurso da escolaridade constitui possibilidade sobretudo aberta àqueles que dispõem de maiores recursos. Aos outros - porventura a primeira geração na família a alcançar o ensino superior - cabe-lhes a tarefa de cumprir o sucesso educativo, sob pena de verem ameaçadas as possibilidades reais de permanecer na universidade".
10.12.07
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Avaliação,
Ensino Superior
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