No âmbito do Laboratório de Avaliação da Qualidade Educativa (LAQE), estrutura funcional do Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro, foi criado, em Março de 2007, o presente blogue onde são colocadas, notícias da imprensa da área da Avaliação Educativa. Esta recolha tem como principal finalidade avaliar o impacte, nos mass media, das questões de avaliação educativas.

Quem mais sabe sobre sexo, mais tarde inicia as relações

17.10.2008 - Jornal Público

Os conhecimentos em educação sexual não antecipam o início das relações sexuais e são mesmo um factor que leva ao seu adiamento, conclui o estudo A Educação Sexual dos Jovens Portugueses: conhecimentos e fontes, que hoje é apresentado em Lisboa e foi elaborado pela Associação para o Planeamento da Família (APF) e o Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa. Mais de metade dos alunos inquiridos, todos do ensino secundário, nunca tiveram relações sexuais.Os jovens com melhores conhecimentos na área começam com maior segurança a sua actividade sexual, dizem ter menos medo e maiores graus de satisfação durante a sua primeira experiência e são também os que menos vezes se sentem pressionados a iniciar a sua actividade sexual, diz Duarte Vilar, sociólogo e presidente da APF, confirmando-se pela primeira vez num estudo português uma tendência que já tinha sido encontrada em estudos internacionais, nota. A amostra foi de 2621 alunos de 63 escolas secundárias de vários pontos do país, com idades que andam entre os 15 e os 19 anos, inquiridos entre Novembro do ano passado e Março deste ano, mas que não é representativa desta população a nível nacional.Na sua prática diária, Margarida Albergaria, professora coordenadora de Promoção para a Saúde na Escola Secundária de Miraflores (região de Lisboa), nota que estes conteúdos não aguçam o interesse em experimentar mas sim um interesse em saber mais. Nesta escola, onde existe um gabinete de apoio ao aluno, a professora constata que quanto "mais informados, mais criteriosos são nas suas escolhas". A directora executiva do Movimento para a Defesa da Vida, Graça Mira Delgado, defende que tudo tem a ver com o que se entende por educação sexual. A responsável do movimento, que até 2005 deu acções sobre o tema nas escolas, está convencida de que a educação sexual que se limita a veicular "informação científica sobre contracepção pode antecipar a actividade sexual"; mas quando inclui também aspectos da formação da personalidade, então "aí concordo que não antecipa porque responsabiliza". O problema é que, na sua opinião, "muitas escolas limitam-se a passar informação".Outro dos mitos que caem com este estudo é o de que a maioria destes jovens têm relações sexuais, diz Duarte Vilar. Se é verdade que a idade da primeira relação tende a ser antecipada - no grupo dos que são sexualmente activos, os rapazes começam sobretudo aos 15 e as raparigas aos 14 -, mais de metade (58 por cento) ainda não se iniciou. Pedro Moura Ferreira, coordenador da investigação no ICS, nota que não estamos a falar "da juventude portuguesa, mas da parte mais bem-sucedida dos percursos escolares". A média de início da actividade sexual (incluindo os que não são activos) rondaria os 16 anos nas raparigas e 17 nos rapazes, nota.Duarte Vilar diz que o estudo denota "falhas importantes [de conhecimento] sobre quase tudo o que se refere à contracepção, excepto o preservativo", assim como as infecções sexualmente transmissíveis, como a sífilis e a gonorreia - a excepção é a sida. Em geral, são as raparigas que têm mais conhecimentos sobre sexualidade (56 por cento, contra 47,5 por cento no caso deles).Daniel Sampaio críticoIsabel Loureiro, ex-coordenadora da Rede Nacional das Escolas Promotoras de Saúde, afirma que alguns dados do estudo revelam dificuldade em fazer a ponte da teoria com a prática. "É ridículo que 48 por cento não saiba onde pode adquirir contraceptivos." Mas nota um alargamento de conteúdos que deixou de se cingir ao fisiológico e aborda temas como os sentimentos dos adolescentes e o desejo sexual. A também professora de Promoção para a Saúde na Escola Nacional de Saúde Pública, em Lisboa, constata que, se a maior parte dos jovens não vai aos serviços de saúde, então têm que ser estes a ir até às escolas.Nos 7.º, 8.º e 9.º anos, a maioria dos conteúdos é abordada na disciplina de Ciências Naturais (60 por cento) e, no secundário (do 10.º ao 12.º), em Biologia (40 por cento), mas começa a notar-se a importância "das áreas curriculares não disciplinares", especialmente em Formação Cívica e actividades como colóquios. Daniel Sampaio, psiquiatra que em Setembro do ano passado cessou funções à frente do Grupo de Trabalho de Educação Sexual, diz que, "da parte dos ministérios da Educação e da Saúde, não houve vontade de pôr em prática o que foi aprovado". O grupo de trabalho defendeu, entre outras medidas, que, no secundário, as escolas devem ter gabinetes de apoio e que os estabelecimentos devem ter coordenador para a área da Educação para a Saúde. O assessor de imprensa do Ministério da Educação, Rui Nunes, responde que "as recomendações estão a ser cumpridas". Dados de 2006, que esperam actualização, apontam para cerca de 850 professores coordenadores a trabalhar na área da saúde e 57 por cento das escolas com gabinetes de apoio ao aluno a funcionar. Neste inquérito, só cinco por cento dos alunos dizem ter ido a um gabinete da escola.

0 comentários: