No âmbito do Laboratório de Avaliação da Qualidade Educativa (LAQE), estrutura funcional do Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro, foi criado, em Março de 2007, o presente blogue onde são colocadas, notícias da imprensa da área da Avaliação Educativa. Esta recolha tem como principal finalidade avaliar o impacte, nos mass media, das questões de avaliação educativas.

Universidades e detalhes

19-12-2008, DiarioEconomico.com

Nas universidades inglesas e americanas o calendário escolar é concentrado. Há menos aulas e exames, mas trabalha-se mais e melhor.João Cardoso RosasEstá actualmente em curso a reforma do modelo de gestão das universidades portuguesas. Tudo indica que, tal como aconteceu com o Processo de Bolonha na modificação da estrutura curricular dos cursos, a actual reforma do modelo de gestão servirá para ficar tudo na mesma, ou pior. Este é o resultado expectável de grandes reformas em instituições veneráveis como as universidades. Aquilo que marca a diferença das melhores universidades a nível internacional tem pouco a ver com grandes configurações institucionais e muito mais com práticas e culturas diferenciadas. Constatei isso várias vezes, por experiência própria. Vejamos alguns detalhes comezinhos. A chegada de um professor ou investigador a uma boa universidade inglesa ou americana começa sempre por uma introdução, geralmente feita pela secretária do departamento, a todos os aspectos práticos de funcionamento da instituição. Em pouco tempo é explicado onde é o lugar de trabalho, como se faz para telefonar, enviar faxes, usar os computadores, as bibliotecas, etc. Vinte minutos depois da chegada o novo recruta já sabe tudo o que é necessário para começar a trabalhar. Cada um depende basicamente de si próprio e raramente precisará de grandes conversas com o pessoal administrativo. Numa universidade portuguesa nada se passa da mesma forma. O recém-chegado fica logo a saber que, seja o que for que necessite, depende sempre do favor de alguém. Assim, para fazer um telefonema é provavelmente necessário contactar uma telefonista e esta não vai fazer chamadas internacionais sem a autorização, por escrito, do director do departamento ou da faculdade. Para enviar um fax é necessário fazer fila no balcão de atendimento da secretaria e pedir a uma assistente administrativa o favor de o enviar. Para obter papel e envelopes tem de se pedir encarecidamente a outra funcionária, e assim sucessivamente. O encontro com os alunos é também elucidativo. Numa boa universidade inglesa ou americana os alunos têm uma atitude madura. Vê-se que estão ali para trabalhar ou, pelo menos, disfarçam bastante bem. Mas fazem-no numa atitude de exigência face ao professor. Nunca chegam atrasados à aula, mas também não toleram que o professor o faça. Não faltam aos encontros, mas não se fazem rogados em chamar a atenção do professor se este não está no seu gabinete nas horas em que devia estar. Cumprem os prazos de entrega dos trabalhos, mas exigem que os mesmos sejam corrigidos com rapidez.Nas universidades portuguesas muitos alunos chegam sistematicamente atrasados, não estão concentrados nas aulas e não entregam os trabalhos a tempo. Também não exigem nada de especial ao professor. Talvez por isso, muitos professores acham que o seu papel consiste em ir para uma sala e falar de qualquer coisa. Há professores que faltam às aulas e não respeitam as horas de atendimento. Há quem corrija trabalhos e exames quando lhe apetece. Há alguns professores que não fazem trabalhos práticos com os alunos.A relação com os colegas docentes e investigadores também é curiosa. Nas universidades anglo-saxónicas passa-se o tempo a falar da investigação de cada um e a trocar experiências. Muitas vezes aprende-se mais nestas conversas informais do que nos seminários formais. Mas as conversas são sempre breves. Nas nossas universidades fala-se de todo o tipo de coisas menos do que cada um investiga. A teoria geral é a de que não se pode falar disso, senão os outros roubam-nos as ideias. Na verdade, a maior parte das vezes os outros simplesmente não estão interessados. Apesar disso, as conversas – e os almoços – são intermináveis.Um outro aspecto diferenciador é o calendário escolar. A tendência actual nas universidades portuguesas é para calendários extensíssimos. Anda-se literalmente o ano todo a dar aulas, em ritmo arrastado. Em vez de haver um só exame no fim do semestre, como seria normal, há múltiplos recursos, épocas normais e especiais, etc. Conclusão: os alunos não têm ocasião para estudar como deve ser e os professores não têm tempo para investigar. Nas universidades inglesas e americanas o calendário escolar é muito mais concentrado. Isso significa que há menos aulas e exames, mas que se trabalha mais e melhor.____
João Cardoso Rosas, Professor de Teoria Política

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