Sindicatos esperam a maior greve de sempre de professores
Será a sexta greve de professores contra a política educativa do Governo de José Sócrates, mas a de hoje será "histórica", confiam os dirigentes das duas maiores federações sindicais (Fenprof e FNE). Ambos falam numa adesão "superior a 90 por cento", com milhares de alunos a ficarem sem aulas, na que esperam ser a "maior" paralisação de sempre desta classe."Desde 2006 que os professores não recorrem à greve, que é uma forma de luta muito dura, muito violenta. Têm feito os seus protestos à noite, aos fins-de-semana. Mas agora atingiram o ponto limite da insatisfação, da indignação, da revolta mesmo", afirma Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof e porta-voz da plataforma que reúne os 11 sindicatos do sector, todos apoiantes da paralisação.No centro de mais uma das várias acções de contestação aprovadas a 8 de Novembro, dia em que 120 mil docentes (quatro quintos da classe) se manifestaram em Lisboa, continua a estar o modelo de avaliação de desempenho dos professores, contemplado no novo Estatuto da Carreira Docente.Os sindicatos impõem a suspensão como condição para a negociação de um sistema transitório para este ano lectivo e de uma versão definitiva a aplicar a partir do próximo. A tutela diz que não está disposta por agora a ir mais longe do que a simplificação do modelo (a segunda nos dois anos de vigência do novo sistema). Ministra e secretários de Estado têm garantido que as medidas anunciadas resolvem as dificuldades que foram sentidas nas escolas. "O ME diz que só negoceia se for a simplificação do seu modelo. Para o futuro, aceita ajustes no seu modelo. Acabar com a divisão da carreira em duas categorias, nem pensar. Há uma completa insensibilidade. Não percebem que isto não é um braço-de-ferro com os sindicatos, mas com os professores todos. Não se pode ter um conflito com todos os docentes", defende Mário Nogueira. Entre acusações mútuas de intransigência, a adesão à greve poderá determinar uma evolução neste impasse. O líder da Fenprof acredita que a resposta maciça dos professores fará com que "as condições políticas do Governo para manter a sua intransigência diminuam ainda mais".Se a adesão ficar aquém das expectativas, então os sindicatos tirarão as suas ilações. Mas aí estamos no domínio da "pura ficção", acredita Mário Nogueira. "Na véspera de uma greve ou de outro protesto, conseguimos sentir o que vai ser o dia de amanhã. Percebemos quando há silêncio e quando há entusiasmo." Concentrações nas escolas"Se esta greve falha, falha tudo!". Maria Eduarda Luz, professora de Economia na Escola Secundária Eça de Queiroz, em Lisboa, está convicta de que o dia de hoje é decisivo para o que vier a ser o futuro da escola em Portugal. Não só, nem sobretudo, por causa do modelo de avaliação, mas devido àquilo que está na sua base, o Estatuto da Carreira Docente, que resume assim: consubstanciou a divisão da classe em duas categorias, os titulares e aqueles que o não são, contando apenas para o efeito os últimos sete anos de actividade, e valorizando o exercício de cargos em detrimento da parte lectiva. "É esta divisão que criou o mau clima que se está a viver nas escolas", sublinha Maria Eduarda, docente há 25 anos, lembrando que já em 2007 a maioria dos professores da Eça de Queiroz se pronunciou contra esta medida. Mas apesar dos antecedentes, ontem não escondia receios: "Há muitos a desmobilizar, sobretudo em Lisboa". Foi uma das razões que a levaram a deitar mão a O'Neill, lembrando em cadeia, via e-mail: "O medo vai ter tudo/ quase tudo/ e cada um por seu caminho/ havemos todos de chegar/ quase todos a ratos".Tem sido uma espécie de corrente, que foi ganhando corpo na blogosfera e agora parece ser já um movimento de norte a sul: muitos professores em greve vão começar o dia concentrados frente às suas escolas e desfilar depois até ao largo da câmara municipal. É o que está previsto, entre outros locais, para Setúbal, Sintra, Portimão ou Ponte de Lima. É o que está combinado também entre os docentes da Secundária da Póvoa de Lanhoso: "Desta vez são as direcções sindicais que estão a reboque dos professores", diz Daniel Martins, docente de Informática nesta escola, que está "no início da cadeia". Hoje vai ser a sua primeira greve como professor (ensina há dois anos) e está optimista. Um mandato de protestosNa Escola Básica 2-3 José Cardoso Pires, na Amadora, sempre se participou muito pouco em greves. Mas Francisco Santos, professor de Educação Física, espera que hoje se quebre a tradição. Um sinal que lhe dá "alguma confiança": já depois das novas medidas de simplificação da avaliação anunciadas pela ministra da Educação, 115 dos 120 professores presentes numa assembleia geral votaram pela suspensão daquele processo. A paralisação de hoje é mais um capítulo numa história que dura há quatro anos e que tem levado sindicatos e milhares de professores a contestar as políticas da equipa liderada por Maria de Lurdes Rodrigues. Meses depois de ter assumido a pasta, em 2005, a ministra da Educação enfrentou a primeira greve e na mais complicada das alturas: a semana dos exames nacionais. Em causa estava o congelamento das carreiras dos professores durante ano e meio e o aumento da idade da reforma dos 60 para os 65 anos de idade e 40 de serviço. Para garantir que os alunos não eram prejudicados, o Ministério da Educação recorreu à requisição de serviços mínimos e o protesto acabou por ter poucas consequências. Apenas duas centenas de alunos se viram impedidos de estrear os exames nacionais do 9.º ano, fazendo-os semanas mais tarde.A alteração da organização dos horários dos professores foi o segundo grande foco de conflito, levando à realização de novas greves, em Novembro desse mesmo ano e em Fevereiro de 2006. Mas foi a revisão do estatuto da carreira docente que acabou por precipitar a ruptura definitiva. A divisão da carreira de professor em duas categorias, a imposição de quotas para aceder à mais elevada (a de titular) e a criação de um sistema de avaliação com critérios "subjectivos" passaram a ser os motes de uma contestação que não parou de agravar--se. Em Junho de 2006 saíram sete mil docentes à rua. Em Novembro de 2008, foram cerca de 120 mil.
4.12.08
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Avaliação,
Professores - Estatuto da Carreira Docente
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