No âmbito do Laboratório de Avaliação da Qualidade Educativa (LAQE), estrutura funcional do Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro, foi criado, em Março de 2007, o presente blogue onde são colocadas, notícias da imprensa da área da Avaliação Educativa. Esta recolha tem como principal finalidade avaliar o impacte, nos mass media, das questões de avaliação educativas.

A questão da Ciência já não se coloca na UE, mas no mundo

Domingo, 5 de Agosto de 2007, Jornal de Notícias

Qual foi a grande mudança na ciência portuguesa nos últimos vinte anos?
Mariano GagoA ciência moderna trouxe para Portugal uma cultura de avaliação. Acho que é, talvez, o mais importante - para lá da modernização das formações e da renovação das universidades. As universidades, no sentido moderno, era como se não existissem em Portugal. Porque não eram produtores de ciência reconhecidos internacionalmente, ou então eram microscópicos produtores de ciência. Faltava esta ideia de que a cultura da ciência é, em primeiro lugar, uma cultura de rigor, de aferição, de controlo e de avaliação... A ideia que a ciência trouxe para o interior das máquinas de escolha de quando se decide, se um projecto de investigação deve ou não ser apoiado, deve fazer-se através de um sistema de avaliação independente. Para Portugal, sendo um país pequeno, a única maneira de o ter é através de avaliadores que são de preferência estrangeiros. Isto introduziu uma ruptura enorme na cultura portuguesa.
Como explica o rápido de-senvolvimento da ciência portuguesa?
Já me perguntei muitas vezes por que razão foi possível em Portugal uma evolução científica tão rápida, em tão pouco tempo e partindo de uma base educacional, universitária e científica tão má. Portugal é o único país da Europa em que isto acontece. Grande parte desta evolução tem a ver com a base social de apoio em Portugal ao desenvolvimento científico. Os jovens cientistas portugueses da minha idade perceberam muito rapidamente que tinham que se dirigir à população, explicar o que estavam a fazer e obter apoio social para o desenvolvimento científico. E devo dizer que, tendo trabalhado em vários países, aquilo que talvez seja mais comovente na história destas últimas duas décadas em Portugal é o apoio social que um país de baixíssimos níveis educacionais, com quase nenhuns cientistas, em que a ciência na vida produtiva necessariamente é muito reduzida porque ela é pouquíssima, verificarmos a confiança que o país deu aos seus jovens cientistas desta geração moderna, dizendo "Nós achamos que é muito importante o que estão a fazer, mesmo que não percebamos o que estão a fazer. Mesmo que não se saiba bem se isso vai servir para alguma coisa; mas é com certeza o que vocês estão a fazer que mudará o país".
O que é que mudou no ensino da ciência?
Houve enormes progressos de professores que procuraram aproximar-se da ciência. Eles tinham tido uma formação de base na universidade, mas que em muitos casos não era uma formação que os aproximasse da ciência moderna, que lhes desse a possibilidade de fazer brilhar os olhos dos alunos e de lhes explicar o que é que estava a acontecer; que descobertas é que estavam a fazer-se. Isso exigia uma aproximação com a ciência, com aquela que se faz nos laboratórios. Portugal conseguiu propor - porque tinha uma necessidade fortíssima, se calhar muito maior do que outros países europeus -, dizia, conseguiu propor uma solução para este problema que é muito inovadora, que passa pela aproximação entre os cientistas que estão nos laboratórios, que estão nas universidades, crescentemente nas indústrias e com os professores que estão nas escolas.
Qual é a principal marca da ciência portuguesa?
O único Prémio Nobel de Ciência português vem de um período de fraquíssimo desenvolvimento científico em Portugal e vem precisamente da área médica. A relação com a indústria é, portanto, mais tardia, porque é mais difícil. Hoje estamos a falar de outro mundo! Porque só no último ano deve ter-se criado uma centena de empresas a partir de jovens cientistas saídos das universidades, das suas teses e descobertas.
Neste momento, qual é o peso do financiamento comunitário na ciência portuguesa?
Se é verdade que temos fundos estruturais europeus ainda muito significativos no orçamento de ciência nacional, também é verdade que proporcionalmente essas verbas têm vindo a diminuir e têm vindo a ser substituídas e muito aumentadas com verbas nacionais. Representa, no fundo, a prioridade que o país dá à aposta na ciência.
Como perspectiva o futuro da ciência na Europa?
A questão da ciência na Europa já não se coloca dentro da Europa, coloca-se à escala mundial. Coloca-se na relação da Europa com o resto do mundo. Coloca- -se na capacidade da Europa de atrair jovens estudantes de todo o mundo. Designadamente dos grandes países que começam a ter máquinas de educação de grande qualidade, mas que ainda não têm um desenvolvimento científico e industrial que consiga absorver todos esses jovens.

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