Lógicas de desenvolvimento
Domingo, 5 de Agosto de 2007, Jornal de Notícias
Elisa, Ferreira, Eurodeputada
Em Portugal, de cada vez que se discutem problemas de desenvolvimento fala-se de montantes de dinheiro e obra; mas, por outro lado, é hoje repetida até à exaustão a ideia de que o que nos faz falta é a formação dos recursos humanos, sendo que a "era do betão" já passou. Assim, estas duas lógicas e respectivos discursos mantêm-se lado a lado, os primeiros quando estão em causa as dificuldades de desenvolvimento de cada região ou cidade e os segundos quando se discutem as estratégias e a filosofia de desenvolvimento.Parece chegado o momento de fazermos uma síntese. É que não há qualquer hipótese de se gerar actividade económica e emprego sem as infraestruturas fundamentais (refiro-me não só a acessibilidades, água, electricidade, como também a infraestruturas de saúde, educação, segurança e outras). Só que não são elas mas o que se faz com elas que pode estimular dinâmicas de desenvolvimento. E aí passam a ser determinantes as qualificações das pessoas, o vigor das instituições (quer públicas quer privadas, e incluindo também as estruturas partidárias), a qualidade dos empresários, para além de todo o tecido social e económico de que nascem iniciativas e oportunidades.No caso do Norte do País (e, em certa medida, também do Centro) tem sido evidente, desde que aderimos à União Europeia, o progresso (ou, talvez melhor, a correcção de atrasos históricos) no que respeita ao primeiro tipo de infraestruturas (condições necessárias). Já no que toca à qualidade das actividades que nelas se praticam (condições suficientes), a evolução positiva tem sido menos marcante ou visível nem o vigor das instituições (públicas e privadas) tem vindo a registar melhorias notáveis nem a dinâmica empresarial parece ter florescido significativamente. De facto, intervir a este nível é bem mais complexo do que fazer auto-estradas, pontes ou edifícios - às dificuldades de identificar os instrumentos de política adequados acresce a complexidade de encontrar protagonistas (institucionais e outros) que, apesar de estarem instalados, possam constituir-se em agentes de mudança credíveis e qualificados. Acresce que o acompanhamento e verificação dos aspectos qualitativos destas intervenções tem sido, inquestionavelmente, um dos pontos fracos do processo de desenvolvimento nacional.A Norte, uma das principais fontes de atraso estrutural é precisamente a baixa qualificação das pessoas, muitas das quais são ainda relativamente jovens mas constituem o grosso da mão-de-obra activa. Qualificar os jovens e, dentro do possível, todos esses activos terá de ser um dos eixos essenciais da recuperação do Norte (mais ainda do que do País em geral); é que é por aí que passa a eficácia dos métodos de gestão empresarial, a adaptabilidade a novas tecnologias e o surgimento de eventuais novos empresários mais capazes de interpretar o mundo que nos rodeia.Ora, se por diversas vezes tenho defendido que é chegado o momento de perguntar à Administração Central, ministério a ministério, serviço a serviço, o que se propõe fazer pelo Norte para inverter a degradação em curso, encontrei uma resposta importante no programa conhecido por "Novas Oportunidades" lançado pelo dinâmico Secretário de Estado Fernando Medina. No balanço que apresentou há dois meses, mais de 250 mil adultos - com um número de mulheres superior ao de homens, estando a maioria entre os 25 e os 44 anos e sendo entre 60 e 75% empregados - tinham-se inscrito para completarem a sua formação partindo do nível básico e/ou secundário, sujeitando-se assim a um plano individual de qualificação que inclui educação e formação profissional. Destes, quase 40% dos inscritos partem apenas com o ensino básico e vivem no Norte (68% se considerarmos Norte e Centro); note-se ainda que quase um terço dos candidatos está no Norte (57% considerando Norte e Centro) se assumirmos o secundário como ponto de partida, Julgo que vai valer a pena acompanhar este programa, dando-lhe visibilidade, valorizando os seus resultados e tornando-o popular e procurado.Há riscos? Claro que sim. Mas, com uma meta de qualificação de um milhão de activos até 2010, o risco não é que a meta não seja atingida. Pelo contrário, o perigo está em que, na ânsia de se mostrarem resultados e atingirem as metas quantitativas, se possam sacrificar o grau de exigência e a qualidade do "produto". E, como já erramos no passado, seria imperdoável que voltássemos a errar, só que, para evitar qualquer deriva de degradação, não há meio-termo ou toda a sociedade se mobiliza ou não haverá máquina governativa que o possa, por si só, garantir!
10.8.07
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Etiquetas:
Educação - geral
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