No âmbito do Laboratório de Avaliação da Qualidade Educativa (LAQE), estrutura funcional do Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro, foi criado, em Março de 2007, o presente blogue onde são colocadas, notícias da imprensa da área da Avaliação Educativa. Esta recolha tem como principal finalidade avaliar o impacte, nos mass media, das questões de avaliação educativas.

Ensino Superior: Reitores e tutela discutiram formas de resolver situação financeira relativa a 2008

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18.07.2008 - Jornal de Público

Os reitores e o ministro do Ensino Superior discutiram hoje formas de resolver os problemas financeiros das instituições relativos ao ano de 2008, usando um fundo da tutela que rondará entre os 10 e os 15 milhões de euros.O encontro de hoje entre o Conselho dos Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e o ministro Mariano Gago ocorre a quatro dias de uma outra reunião que o órgão vai manter, terça-feira, com o primeiro-ministro, José Sócrates. "Não há acordo quanto a transferências concretas de verbas. Não ficou claro quais as verbas que cada universidade vai receber. O que está claro é que para 2008 os problemas vão ser resolvidos. Há um entendimento e um fundo [do Ministério do Ensino Superior] para isso, que rondará entre os 10 e os 15 milhões de euros", disse à Lusa hoje fonte ligada ao processo. "Mas mesmo estes números não foram quantificados" na reunião, ressalvou a fonte. "O acordo mais importante foi no sentido de entre o Ministério e as Univerdades haver um conhecimento recíproco das situações financeiras efectivas" das instituições, acrescentou a mesma fonte. Para tal vai ser feito um levantamento - por um controlador financeiro - da situação nas universidades, ou seja, saber as verbas de que dispõem, que verbas estão em falta, números de alunos, entre outros dados. "Essa informação vai depois circular entre as universidades. Isto é, pela primeira vez as universidades vão ficar a conhecer a situação umas das outras", afirmou, adiantando que "todas as universidades foram unânimes quanto à bondade deste processo". "É a partir daí que se vai poder conciliar os dados e perceber o que há a fazer para o orçamento de 2009", disse igualmente. Fonte oficial do CRUP confirmou a reunião, mas recusou adiantar mais pormenores sobre os resultados destes encontros com o ministério. O presidente do CRUP, Fernando Seabra Santos, tinha revelado em final de Junho que está prevista para terça-feira uma reunião com o primeiro-ministro para discutir os problemas financeiros das universidades. "Estou esperançado que consigamos chegar a um entendimento sobre as verbas necessárias para concretizar as nossas expectativas e, em todo o caso, o funcionamento normal das instituições até ao final de 2008", disse na altura Seabra Santos. "Os problemas ainda estão longe de estarem resolvidos, mas estão a abrir-se vias de diálogo e de resolução que podem, eventualmente, chegar a bom porto", adiantou o reitor da Universidade de Coimbra. Segundo Seabra Santos, estavam previstos vários encontros com Mariano Gago antes da reunião com José Sócrates. "Não há garantias nem há nada que se possa considerar como a resolução dos problemas, mas há vontade de falar e de conversar. Estamos na via da aproximação e do diálogo, que nós sempre defendemos, e vamos ver se conseguimos chegar a um entendimento", referiu ao reportar-se aos resultados do encontro da passada quinta-feira com o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Na semana anterior, o CRUP denunciara a "grave situação financeira das universidades", que se traduz num défice real de tesouraria e na impossibilidade de cumprir compromissos. Segundo uma fonte do CRUP disse à agência Lusa nessa altura, "se não houver um reforço de 100 milhões de euros ainda para os orçamentos de 2008, as universidades ficam em grandes dificuldades financeiras que colocam em causa o pagamento de salários". "Quando um problema tem só uma solução não se pode dizer que seja um problema difícil, um problema difícil era se não tivesse solução ou se tivesse mais do que uma", observou na altura o presidente do CRUP. De acordo com Fernando Seabra Santos, "a solução é o reforço orçamental". "O Estado não pode senão suportar os seus compromissos e a contratação e os salários dos funcionários públicos. É um dever inalienável do Estado", frisou o presidente do CRUP.

Governo aprova nova estratégia para promoção e divulgação da língua portuguesa

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16.07.2008 - Jornal Público

O Conselho de Ministros aprovou hoje uma nova estratégia para a promoção e divulgação da língua portuguesa, que envolve a criação de um fundo de desenvolvimento nesta área, disse hoje à Lusa fonte do executivo.Esta estratégia visa o reconhecimento e promoção da língua portuguesa, a sua promoção como instrumento fundamental de educação, formação e capacitação institucional, no âmbito da cooperação para o desenvolvimento, e instrumento de internacionalização económica, de divulgação cultural e de ligação às Comunidades Portuguesas. A nova estratégia inclui a criação de um Fundo de Desenvolvimento e Língua Portuguesa, de uma Comissão Interministerial com o objectivo de desenvolver um Plano de Acção de valorização do património cultural de origem portuguesa e um diploma que aprova as alterações ao Instituto Internacional de Língua Portuguesa. Existem mais de 240 milhões de falantes da língua portuguesa no mundo. Distribuída pelos cinco continentes, a língua portuguesa é a terceira mais falada nos continentes africano e europeu.Além da população residente em cada um dos oito países que têm a língua portuguesa como idioma oficial - Angola (12,5 milhões de habitantes), Brasil (191,9 milhões), Cabo Verde (427 mil), Guiné-Bissau (1,5 milhões), Moçambique (21,2 milhões), Portugal (10,6 milhões), São Tomé e Príncipe (206 mil) e Timor-Leste (1,1 milhões) - mais de 5 milhões de pessoas constituem as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Na listagem das línguas com maior número de falantes, o português surge entre o quinto e o sétimo lugar, conforme as tabelas consideradas, mas na Internet a sua importância é mais facilmente avaliada, sendo considerado o sétimo idioma mais divulgado. O plano hoje aprovado pelo governo português inclui acções de promoção da língua portuguesa nos fóruns internacionais, com destaque para os principais blocos político-económicos. Estão neste caso a União Europeia, o Mercosul e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que garantem já versões em português dos seus sítios na Internet. Contudo, os sítios na Internet das Nações Unidas, União Africana, NATO, Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD) e a União dos Estados Ibero-americanos (UEI) não apresentam a língua portuguesa como alternativa de escolha. Segundo projecções baseadas na evolução demográfica dos oito Estados que têm o idioma como língua oficial, deverão totalizar 335 milhões de habitantes em 2050, prevendo-se neste sentido, a consolidação da importância da língua portuguesa.

Conselho Consultivo do Plano Tecnológico debate amanhã Educação e Justiça

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14.07.2008 -Jornal Público

Os domínios da Educação e da Justiça estarão em debate no Conselho Consultivo do Plano Tecnológico que se reúne amanhã para analisar o impacto, as prioridades e a execução do Plano Tecnológico.Em comunicado, o gabinete do Coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico refere que a agenda do encontro, que decorrerá em Lisboa, incluirá a apresentação de resultados de execução do plano e dos primeiros resultados do estudo de indicadores de impacto das suas medidas, realizado pelos economistas João Caraça e Vítor Corado Simões."O debate desta sessão será focado nos domínios da Educação e da Justiça e dos respectivos planos tecnológicos sectoriais, contando com a presença da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e do secretário de Estado da Justiça, João Tiago Silveira.Lançado em 2005, o Plano Tecnológico é uma prioridade do Governo de José Sócrates para as políticas públicas para promover o desenvolvimento e reforçar a competitividade do país, com base em três eixos: Conhecimento, Tecnologia e Inovação.No campo da Educação, o principal programa lançado no âmbito do Plano Tecnológico foi o E-Escolas, de massificação do acesso à Banda Larga, que contempla a venda de computadores portáteis com acesso à Internet móvel a preços reduzidos.Na área da Justiça, o plano visa a desmaterialização e informatização da gestão dos actos e processos nos tribunais e nos serviços de registos, facilitando o acesso dos cidadãos e empresas ao sistema judicial e aos serviços.

Universidade Católica e Universidade Aga Khan assinam acordo de cooperação

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12.07.2008 - Jornal Público

A Universidade Católica e a Universidade Aga Khan assinaram hoje um acordo de colaboração académica nas áreas das ciências da vida, educação, direito, religião, ética e educação.A assinatura do protocolo entre as duas instituições decorreu perante o príncipe Aga Khan, líder institucional e espiritual dos muçulmanos ismaelitas, que se encontra de visita a Portugal. "É um acordo geral em que queremos ver aumentado o número de iniciativas concretas", afirmou o reitor da Universidade Católica, Manuel Braga da Cruz. Braga da Cruz especificou que representantes de ambas as universidades vão agora trabalhar "sectorialmente" o acordo assinado hoje. O presidente da Universidade Aga Khan, Firoz Rasul, afirmou que a cooperação irá incidir em disciplinas como "cultura, direito, religião, ética, ciências da saúde, educação e ciências da vida". "Uma área de interesse comum identificado é o estudo comparado do impacto da religião na evolução dos sistemas legais", referiu Firoz Rasul. Segundo Braga da Cruz, este acordo é a "consequência natural da descoberta mútua" das universidades, ambas confessionais, com um "perspectiva religiosa do mundo". Assistiram à assinatura do acordo o cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, o ministro da Ciência e Ensino Superior, Mariano Gago, e o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro. A visita de cinco dias do Aga Khan a Portugal termina segunda-feira e insere-se numa série de deslocações efectuadas a diversas partes do mundo para assinalar o ano do seu jubileu de ouro - o 50º aniversário desde que se tornou ímã, líder espiritual dos muçulmanos Shia Imami Ismaili, uma comunidade etnicamente diversificada que reside em cerca de 25 países. O Aga Khan dirige uma comunidade de 15 milhões de muçulmanos, oito mil dos quais a residir em Portugal.

Ministério considera “maus” os resultados do exame de Matemática do 9º ano

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11.07.2008 - Jornal Público

O secretário de Estado da Educação considerou hoje "maus" os resultados do exame de Matemática no 9º, mostrando-se preocupado por se estar tentar passar a ideia de que 50 por cento de negativas é um bom resultado.Valter Lemos assinalou as melhorias registadas na Matemática mas considerou que os resultados "ainda estão longe do que deverá ser a expectativa". "Cinquenta por cento de negativas é mau e lamento muito que estes resultados estejam a ser apresentados e a ser passados para as famílias e professores como muito bons", disse o responsável do Ministério da Educação. Ainda assim, Valter Lemos atribuiu a melhoria dos resultados a Matemática ao esforço de alunos e professores, rejeitando uma vez mais acusações das associações de professores de que as provas nacionais de Matemática e Português eram demasiado fáceis. "Houve um enorme esforço de professores e alunos e os resultados já se começam a notar", disse, alertando para o facto de este esforço estar a ser desvalorizado e os resultados a serem atribuídos apenas ao maior ou menor facilitismo dos exames.

Curso de Medicina leva portugueses até à República Dominicana

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13.07.08 , Diário Notícias

Ensino superior. Estrangeiro é cada vez mais uma opção
Com as médias para entrar em medicina a aumentar, são cada vez mais os portugueses que se voltam para o estrangeiro. E se Espanha e a República Checa são os destinos mais óbvios, a República Dominicana surge como um verdadeiro paraíso para os interessados em estudar além fronteiras. A procura começou em 2005 e, desde então, já estão nestas paragens mais de 30 estudantes portugueses.A universidade mais procurada é a Universidade Nacional Pedro Henriquez Ureña, a primeira instituição privada da capital Santo Domingo. "Em Setembro vão entrar mais cinco estudantes", adianta ao DN fonte da embaixada da República Dominicana.Neste paradisíaco país das Caraíbas, existem três datas para se ingressar no ensino superior. A primeira entrada acontece em Janeiro, a segunda em Maio e a última em Setembro. Os portugueses que escolhem este destino "são maioritariamente do Norte", acrescenta a mesma fonte da embaixada.Mais concorrida que as Caraíbas é a República Checa. Estudam aqui "300 e poucos portugueses", de acordo com a embaixada em Portugal deste país da Europa central. Mas a grande favorita continua a ser Espanha. Embora não existam dados oficiais de quantos portugueses estudam no país vizinho, no ano passado, só em Santiago de Compostela entraram 50 estudantes lusos.Diferentes experiências "É uma experiência enriquecedora", considera Cátia Batista, 21 anos, há três a estudar medicina em Cádiz, onde estão cerca de 30 portugueses. A relação com os colegas espanhóis é que nem sempre é a melhor. "Nos exames ou quando é preciso emprestar apontamentos, alguns têm atitudes negativas. Mas, em geral são bons colegas", conta a jovem de Salvaterra de Magos.Noémia Silva, de Portimão, também frequenta o terceiro ano de medicina em Cádiz e concorda que os espanhóis se sentem ameaçados pela presença dos portugueses. "No início, há muito essa ideia. Somos postos de parte e tratam-nos de forma mais fria", partilha a estudante de 21 anos. Satisfeita com a escolha, Noémia explica que "em Espanha o curso de medicina é igual a qualquer outro e, por isso, não existe aquela ideia de ser especial estudar medicina, como em Portugal".Desde que terminou o 12.º ano em 2005, Madalena Marques tenta entrar em Espanha. Pelo meio, já fez dois anos de Gestão e concluiu este ano o primeiro de Ciências da Comunicação. Mas o sonho da Medicina nunca morreu, daí que vá tentar de novo. "Vou fazer os exames nacionais da segunda fase, em Portugal", adianta. Madalena concorreu já com as notas dos exames espanhóis, que fez em Setembro. Esta é outra forma de se candidatar ao ensino superior espanhol.

Vagas de Direito criticadas pela Ordem dos Advogados

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10.07.08, Jornal de Notícias

Ensino superior. Para os advogados, as vagas de Direito são excessivas. Os politécnicos, principais beneficiários da aposta no pós-laboral, estão satisfeitos para já, mas acham que é preciso reforçar ofertas no futuro. Os médicos acham que os actuais valores são razoáveis e não se deve ir mais além
A divulgação das quase 50 777 vagas colocadas este ano a concurso no ensino superior público gerou reacções contraditórias entre ordens profissionais e associações do sector. Houve quem considerasse a oferta excessiva, quem a admitisse como razoável e até quem defendesse que, a médio prazo, certas vagas têm de aumentar exponencialmente. Os comentários mais inflamados vieram do bastonário dos advogados. Confrontado com os 1673 lugares disponibilizados em Direito, perto de um terço dos quais na Universidade de Lisboa, Marinho e Pinto disse no Fórum TSF que a percentagem de diplomados nesta área em Portugal já é demasiado elevada, desafiando o poder político a assumir responsabilidades: "O Governo tem de arranjar na administração pública ou na administração local lugar para os licenciados", considerou.Em declarações ao DN, Inês Duarte, vice-reitora da UL, refutou as críticas no que a esta instituição diz respeito: "O ano passado, abrimos 500 vagas. Este ano foram mais 10 e menos 40 do que em 2006", referiu, acrescentando que "todos os lugares têm sido preenchidos".Inês Duarte lembrou que "o curso de Direito tem várias saídas profissionais além da barra dos tribunais". E frisou ainda que muitas vagas em Direito são "preenchidas no regime pós-laboral, por estudantes já no mercado de trabalho", além dos alunos de países de expressão portuguesa, que em 2007 ocuparam "perto de uma centena" dos lugares.Já o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, disse à Lusa ser "razoável" o número de vagas da Medicina - 1614, das quais 126 através do concurso para licenciados -, admitindo que este número permite ao País absorver os médicos em termos de internatos". Pedro Nunes avisou, no entanto, que um "maior número de vagas seria excessivo", porque já faltariam soluções em termos de internato. A verdade é que, ainda esta terça-feira, o ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, disse ao DN que o aumento gradual dos lugares em Medicina é para continuar.Já a Ordem dos Engenheiros, através do bastonário Fernando Santo, criticou sobretudo a forma de acesso aos cursos desta área, que classificou de "facilitista", colocando universidades e politécnicos perante um "problema": optar entre manter os níveis de exigência e perder alunos ou baixar os padrões. Quem não considera excessivas as vagas é o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCSISP), cujo sector foi o principal beneficiário do aumento, recebendo mais 1116 lugares e aproximando-se ainda mais das universidades. Em declarações ao DN, Luciano de Almeida, presidente do CCSISP, elogiou o reforço do regime pós-laboral, "essencialmente assegurado pelos politécnicos". A oferta de vagas a este nível, considerou, foi "prudente", já que as "dificuldades financeiras" das instituições não lhes permitiriam ir mais além no imediato. Porém, "a oferta no pós-laboral está ainda muito aquém das necessidades reais".

Água esteve presente nos tempos primordiais da Lua

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10 Julho 2008, Jornal de Notícias

A Lua foi rica em água e a presença desta na sua superfície não se deve apenas a vestígios deixados por meteoritos e cometas que chocaram com o satélite da Terra.
A conclusão é avançada por três geólogos que tiveram acesso a amostras de rochas vulcânicas recolhidas pelas missões norte-americanas Apollo 11, 15 e 17.
Originalmente, havia água na Lua, garantem investigadores do Instituto Carnegie, que recorreram a um novo método de espectometria de massa. Eles afirmam mesmo que haveria uma quantidade de água comparável à da Terra logo quando da formação do satélite. Essa componente líquida ter-se-ia evaporado e dispersado pelo espaço, mas parte dela ter-se-ia dirigido para a zona fria dos pólos. Aí o vapor de água fixou-se sob a forma de gelo na sombra das crateras.
A detecção de água vai ser uma das missões da sonda Lunar Reconnaissance Orbiter, da Nasa, que deverá cartografar a superfície da Lua com vista à preparação dos voos comandados por tripulações previstos a partir de 2020.
O conhecimento do espaço vai, entretanto, sendo feito de outras tentativas, como a que empreendeu a Agência Espacial Europeia com a sonda Rosetta. Esta foi agora acordada pelos controladores, depois de um período de hibernação desde finais de Março. Este objecto partiu da Terra há mais de quatro anos e tem como destino um cometa, que atingirá apenas em 2014. Uma das etapas da missão está marcada para 5 de Setembro próximo e consistirá em observar o asteróide Steins na sua composição, rotação e órbita. Nessa data, a Rosetta estará a 3.700 milhões de quilómetros da Terra.

Tensão na crosta terrestre anuncia tremores de terra

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10 Julho 2008, Jornal Notícias

A Falha de Santo André, no oeste dos Estados Unidos, é das mais activas e também mais estudada. Cientistas conseguiram agora detectar aumentos de tensão no subsolo que anunciavam pequenos sismos de horas depois.
Antes dos tremores de terra, regista-se um aumento da tensão da crosta terrestre em profundidade. Este facto foi observado através de medições por cientistas que trabalham junto da Falha de santo André, na Califórnia e pode constituir um dado importante para a elaboração de um futuro sistema de previsão de sismos.
O estudo é hoje publicado na revista "Nature" e aponta para a ocorrência de mudanças na velocidade das ondas sísmicas a uma profundidade de um quilómetro. Pequenos sismos foram registados pelos aparelhos cerca de dez a 12 horas depois. Haverá, pois, uma correspondência entre os dois fenómenos, concluem os cientistas.
Esta era uma pista já admitida pelos sismologistas, mas só agora ficou disponível a tecnologia necessária às medições, de forma fiável e precisa. Novos instrumentos permitem medir as alterações em profundidade, no nível em que se produzem os sismos. "Detectar mudanças de tensão antes de um sismo sempre foi a principal demanda da nossa disciplina e aquilo que motivou a pesquisa", afirmou um dos autores do artigo científico, Paul Silver, do Instituto Carnegie. "As medições de alterações na velocidade das ondas deverão fornecer uma escala de tensão capaz de dar indicações quanto à iminência de um tremor de terra", acrescentou. As experiências vão prosseguir em zonas da Califórnia por onde passa a Falha de Santo André, detectável a olho nu e que foi já responsável por sismos devastadores em cidades como Los Angeles. O receio pelo "Big One" (O Grande) é uma constante na região.
A previsão de fenómenos naturais extremos poderia ajudar a reduzir o número de vítimas e os prejuízos, mas a tendência para maiores catástrofes é assinalada pelo relatório semestral de uma resseguradora alemã a que fazemos referência ao lado. Em seis meses já houve 400 catástrofes.

Ordem dos Engenheiros critica facilitismo para entrar nalguns cursos

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09.07.2008 - Jornal Público

O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santo, criticou hoje o facilitismo no acesso a alguns cursos de engenharia, após um ensino secundário onde a formação nas áreas da matemática, física e química é insuficiente. Segundo Fernando Santo, devido à falta de formação básica nas áreas de engenharia, "as universidades e os politécnicos têm pela frente um problema"."Ou mantêm as regras de exigência adequadas às formações e exigências que querem garantir no final dos cursos aos seus alunos - e então terão muitos poucos alunos e estará em causa a sua sobrevivência -, ou têm de abrir as portas para adequar as exigências à falta de formação nivelando por baixo e, infelizmente, é isso o que está a suceder em muitas escolas", afirmou o bastonário, no dia em que foram conhecidas as vagas no ensino superior público para o próximo ano lectivo.O bastonário realçou, ainda, que no ano passado "apenas quatro Institutos Politécnicos exigiam matemática como cadeira específica" para cursos de engenharia, pelo que "os alunos poderiam entrar nos outros politécnicos sem matemática, porque não era exigida". "É por esta via do facilitismo que estamos a encher o número de vagas, que são desejáveis a nível do país, mas que tem aqui um 'handicap' grave em termos de formação base", realçou.Fernando Santo salientou que, quanto aos engenheiros, não há excesso de vagas, porque o mercado do país tem capacidade de absorver estes profissionais. "Não temos é cursos de ensino médio que sejam excelentes e isso obrigava a reconverter muitos Politécnicos e muitas escolas que se dizem do Ensino Superior e que são más escolas do Ensino Superior e que poderiam ser óptimas escolas do ensino médio", defendeu, salientando a necessidade de um grupo de profissionais com uma formação média, essenciais na esmagadora maioria de empresas de pequena ou media dimensão, que representam a maioria do tecido empresarial português.Mais de 300 cursos de engenharia com designações diferentesPara Fernando Santo, estas escolas deveriam funcionar como alternativa às universidades e politécnicos e "era para elas que deveria ser orientado quem não quer ir para a Universidade ou quem não tem formação adequada aos patamares de exigência que não são os nossos actuais". "As escolas hoje estão em concorrência umas com as outras por causa do financiamento baseado no número de alunos. Nós temos mais de 300 cursos de engenharia com designações diferentes e esta proliferação é de facto um desastre sobre o ponto de vista de orientação dos alunos e reconhecimento pela sociedade", concluiu.Como pontos positivos das vagas disponíveis para o próximo ano, Fernando Santo destacou os aumentos na ordem dos 5,2 por cento na área das ciências e de 3,8 por cento nas tecnologias, representando cerca de um terço das vagas totais do Ensino Superior, e ainda o aumento de lugares em regime pós-laboral.As vagas abertas no ensino superior público para o próximo ano lectivo, divulgadas hoje, apresentam mais 1505 lugares face ao ano passado. O ensino superior politécnico foi o grande responsável pelo aumento do número de vagas, pois disponibiliza mais 1166 lugares, enquanto o ensino superior universitário apenas criou mais 339.Por área de formação, os cursos em que se registou um maior aumento de vagas foram os de Ciências e Tecnologias (mais 635 lugares, o que os coloca na liderança com um total de 17.117 vagas) e os de Ciências Sociais (com mais 612), seguindo-se, a larga distância, os de Saúde e Protecção Social (com mais 191). O aumento do número de vagas para horários pós-laborais cresceu 60,7 por cento, passando de 2160 em 2007 para 3471 em 2008.A Ordem dos engenheiros reconhece todos os cursos de engenharia do país homologados pelo Ministério do Ensino Superior. Mas para entrar na Ordem, os candidatos têm de fazer um exame de admissão, do qual são dispensados os licenciados em cursos que foram avaliados segundo critérios da Ordem com nota positiva.

Medicina tem 1614 vagas, mais 151 do que no ano anterior

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09.07.2008 - Jornal Público

As universidades e politénicos públicos disponibilizam 50.777 vagas para o próximo ano lectivo. Mais 1505 em relação ao ano passado. É sobretudo nas áreas das Ciências e Tecnologias e das Ciências Sociais que aumenta a oferta. Este ano há mais 151 lugares em Medicina, o curso que tradicionalmente tem as médias de admissão mais altas segundo a lista das vagas para a primeira fase do concurso nacional de acesso ontem disponibilizada à comunicação social pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.O aumento de 3 por cento de lugares deve-se sobretudo à subida da oferta no ensino superior politécnico que põe mais 1166 lugares à disposição dos estudantes (ao todo são 24.018). As universidades disponibilizam 26.759 vagas, mais 339 do que em 2007.Outro reflexo deste aumento verifica-se na oferta de cursos em horário pós-laboral. As vagas passaram de 2160 para 3471, ou seja, mais 60,7 por cento do que no ano anterior. Também aqui são os politécnicos que mais aderiram a esta opção. Por exemplo, o curso de Tecnologias e Gestão Industrial, no politécnico de Setúbal aumentou de 33 para 80 lugares; mais 32 vagas oferece o politécnico de Viseu no seu curso de Comunicação Social onde poderão sentar-se 72 novos alunos.O curso de Medicina também é responsável pela subida do número de vagas. Desde 2004 que este valor subiu de 1185 para 1614. Só de 2007 para este ano o crescimento foi de cerca de dez por cento. A Universidade do Minho oferece mais 25 lugares, um aumento possível graças às novas instalações que foram inauguradas recentemente. Segue-se a Universidade Nova de Lisboa com mais 20 novas vagas e a de Coimbra com 16. A Universidade de Lisboa é a única que não mexe no número de lugares, uma decisão compreensível já que é aquela que mais alunos pode admitir: 330.Do total de vagas, as que contam para o concurso nacional são 1489. E as restantes 125? São para alunos licenciados em qualquer área, mas que tenham garantido um nível de conhecimentos das cadeiras nucleares. Em Fevereiro saiu um decreto-lei que prevê o ingresso destes novos alunos. O objectivo desta medida é ter uma maior diversidade de estudantes, oriundos de outras áreas pois “os fundamentos científicos da prática clínica e da investigação biomédica se baseiam cada vez mais na interacção” com outras áreas como a Física, Biologia, Química... Mas também as Humanidades, o Direito ou a Economia, explicava na altura o ministério em comunicado. Estes alunos farão o curso num período de tempo mais curto.Quase todos adaptados a BolonhaAinda em Medicina, a vida dos estudantes do secundário que se candidatam pela primeira vez também não está facilitada já que, este ano, contam três provas específicas. Além de Biologia e Química, os alunos poderão escolher a nota de Matemática ou de Física. E este ano as médias dos exames nacionais, na primeira fase, subiram a Matemática A (14 valores em 20), Biologia e Geologia (10,8) e Física e Química A (9,6 valores), pelo que as médias de entrada serão, em princípio, mais altas.O ministério assinala que, entre 2004 e 2008, o número de vagas disponibilizadas cresceram de 46.673 para 50.777. “A oferta formativa continua a consolidar-se e a estabilizar”, aponta a tutela em comunicado. Se esta tem subido nas Ciências e Tecnologias é nas Humanidades que tem descido.A adaptação dos cursos ao processo de Bolonha está quase completa, embora ainda haja formações em algumas escolas, como nas universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro ou do Algarve que ainda não fizeram a adequação.Cabe à licenciatura em Direito da Universidade de Lisboa o número recorde de vagas (510); seguida de Direito em Coimbra. As enfermagens de Lisboa, Coimbra e Porto também têm mais de 270 lugares para preencher cada uma. Do outro lado da tabela existem formação com apenas dez vagas como Ciências Agrárias, nos Açores ou Engenharia de Minas e Geoambiente no Porto. A apresentação da candidatura à primeira fase do concurso nacional de acesso começa amanhã.

Associações de professores reagem a resultados nos exames de matemática e de português

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07.07.2008 - Jornal Público

A Associação de Professores de Matemática (APM) congratulou-se hoje com a melhoria dos resultados no exame de Matemática A do 12º, mas considerou que não revelam necessariamente uma melhor aprendizagem, porque as provas não são comparáveis às dos anos anteriores. De igual modo, a Associação de Professores de Português (APP) entende que a quebra de resultados nos exames de Português do 12º ano deveu-se "exclusivamente" a uma prova "duvidosa e mal formulada" e não à falta de preparação dos alunos.Para a APM, o trabalho que se tem vindo a desenvolver com os alunos nas escolas, os testes intermédios, o tempo da prova e as suas características, nomeadamente "a alteração da estrutura no caso da Matemática A e a inclusão de algumas questões bastante acessíveis" foram alguns dos factores que, segundo a Associação de Professores de Matemática (APM), contribuíram para uma melhoria dos resultados nas provas deste ano. A Associação de Professores de Matemática afirmou ainda discordar da análise feita pelo Ministério da Educação quanto "aos factores que contribuíram para a melhoria dos resultados dos exames de Matemática do ensino secundário". A associação salienta que "nenhuma das medidas do Plano de Acção para a Matemática (PAM) se dirigiu aos alunos do secundário", lembrando que este ano não houve alunos abrangidos pelo PAM a realizar tais exames, uma vez que aquele Plano "só se iniciou no 9º ano em 2006/07". Porém, a associação sublinha, em comunicado, que a subida de notas "não revela que as aprendizagens dos alunos tenham melhorado relativamente a anos anteriores", uma vez que os exames "não podem medir todas as aprendizagens" e porque as provas foram "diferentes a vários níveis, sobretudo no tempo de realização e no número de perguntas que exigem raciocínios mais complexos". Para a APM, o "investimento na formação contínua dos professores e no equipamento das escolas", aliada a outras medidas como "a redução do número de alunos em algumas turmas ou o desdobramento das turmas maiores" são medidas que, a médio prazo, produzirão "melhorias nos resultados não só nos exames, mas também das aprendizagens dos alunos na disciplina de Matemática". A taxa de reprovação de 7 por cento dos 36.674 alunos que fizeram este ano a prova de Matemática A é menos de metade da verificada no ano passado (18 por cento) e cerca de um quarto da de 2006 (29 por cento), segundo dados do Ministério da Educação (ME). Prova de português “duvidosa e confusa” Nos exames de português, a Associação de Professores de Português (APP) culpa a má formulação da prova pelos piores resultados dos últimos anos. "Os maus resultados [a português] não surpreenderam porque a prova apresentava toda uma série de questões mal formuladas que levaram os alunos à confusão. Esta quebra não se deve a falta do bom ensino de Português ou falta de preparação, mas sim exclusivamente à prova que os alunos tiveram à frente", afirmou hoje à Agência Lusa a vice-presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Antunes Ferreira. A responsável lembrou que tanto o primeiro como o segundo grupo do exame de Português do 12º ano "suscitaram várias dúvidas" à APP e a inúmeros professores, salientando que "nem os alunos nem os docentes podem ser responsabilizados pelos fracos resultados". "Os professores leccionaram e preparam os alunos este ano como sempre o fizeram nos anos anteriores. Há uma coisa que está mal nisto tudo e de certeza que não é a forma como os professores leccionam o Português", reiterou. A média de notas no exame de Português do 12º deste ano ficou abaixo dos 10 valores (numa escala até 20) pela primeira vez em três anos, situando-se nos 9,7 valores face aos 10,8 de 2007. Edviges Antunes Ferreira afirmou ver "com bons olhos" o reforço das medidas de apoio da disciplina no Secundário anunciado pelo Ministério da Educação na sexta-feira passada. "Qualquer reforço a nível da carga horária em Português é fundamental para melhorar o desempenho dos alunos. Mas não tenho dúvidas de que se os alunos no próximo ano forem confrontados outra vez com uma prova deste calibre os resultados não vão melhorar, vão ser os mesmos", considerou.

Educação: "Melhorias estatísticas não vão ajudar o país"

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07 Julho 2008, Jornal de Notícias

"Qual o perfil de cidadão que desejamos para Portugal?". A resposta a esta questão devia edificar o sistema educativo, defende um sociólogo ao JN. Os docentes não falam em facilitismo, mas estão preocupados.
São hoje afixadas nas escolas as notas dos exames de 12º ano. Na sexta-feira, o Ministério da Educação revelou as médias das classificações: houve uma melhoria generalizada, principalmente a Matemática. Esses resultados são fruto do investimento no processo de aprendizagem ou de um sistema facilitista? O JN fez esta pergunta a presidentes de associações de professores e docentes universitários. Nenhum classificou o sistema de facilitista, a palavra nem sequer foi mencionada, mas todos criticaram a focalização para os resultados estatísticos.
"O país vai pagar caro por esta política educativa. As estatísticas não vão ajudar o desenvolvimento" do país, considera Mário de Carvalho. Professor universitário, ex-dirigente da Fenprof, foi o único a reconhecer ao JN que os alunos lhes estão a chegar pior preparados. "Nos Estados Unidos e noutros países europeus quem chumba no Ensino Superior "é convidado a sair por desprestigiar os estabelecimentos", a exigência devia ser regra, considera.
"O nosso sistema de ensino está longe de favorecer o desenvolvimento do país", concorda Ivo Domingos. O sociólogo de Educação da Universidade do Minho defende o maior envolvimento e responsabilização dos agentes formativos, nomeadamente as famílias. "Qual é o perfil do cidadão que desejamos para Portugal?" - a resposta a esta questão deveria edificar o sistema educativo alega. Os pais não podem "fazer trabalhos de casa" aos filhos ou incentivá-los a "copiar" só porque é mais simples.
"Vivemos uma preocupante laicização do ensino e da avaliação escolar", alerta, criticando a preocupação excessiva não só deste Ministério como dos anteriores com "uma certificação de sucesso". Dois indicadores deste sistema são "a quantidade de alunos com várias negativas no 1.º e 2.º período que depois passam de ano" e o facto de haver, "cada vez mais, predisposição para copiar". Se os alunos não aprenderem além dos conteúdos curriculares "competências racionais, morais e éticas não terão problemas, quando forem adultos, em desrespeitar o código da estrada ou fugirem ao fisco. Um sistema que não é planeado irá sempre favorecer os interesses corporativos, por vezes ilegítimos", concluiu.
"O problema não está nos alunos bem sucedidos mas nos que perdemos". Rui Trindade também critica um sistema focalizado para as notas: há mais escola além dos exames. Esses resultados não revelam o nível de aprendizagem. O professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação do Porto defende - tal como todos os outros docentes ouvidos pelo JN - um sistema que não facilite os chumbos mas a recuperação dos alunos. É o recomendado pela OCDE e pela UNESCO. Entre 2005 e 2007 a taxa de reprovação em Portugal desceu dos 10,2 para os 5,5% nos primeiros seis anos de escolaridade. O problema, alertam, é a falta de meios e planeamento.
"Ainda estamos a muitas décadas da Finlândia", sublinha Rita Bastos, presidente da Associação de Professores de Matemática. "A investigação mostra que a reprovação não resolve nenhum problema nem para os alunos nem para as escolas mas os finlandeses não têm os nossos problemas económicos, sociais e culturais e todos eles entram na escola".

Exames: chumbos a matemática descem mas média de português abaixo dos 10 valores

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04.07.2008 - Jornal Público

A taxa de reprovação no exame de Matemática A do 12º deste ano baixou para 7 por cento, contra os 18 por cento do ano passado, numa prova em que a média de notas foi de 12,5 valores. Mas a média de notas no exame de Português do 12º deste ano ficou abaixo dos 10 valores pela primeira vez em três anos, situando-se nos 9,7 valores face aos 10,8 de 2007.A taxa de reprovação de 7 por cento dos 36.674 alunos que fizeram este ano a prova de Matemática A é menos de metade da verificada no ano passado (18 por cento) e cerca de um quarto da de 2006 (29 por cento), indicam os dados oficiais distribuídos hoje à tarde pelo Ministério da Educação (ME). Em relação aos alunos internos (ou seja, os que frequentaram a disciplina durante todo o ano), a média obtida foi de 14 valores, 3,4 valores acima do que se verificou em 2007, ano em que pela primeira vez a média obtida por estes alunos foi superior a dez valores. No total dos alunos, ou seja incluindo os que já estavam chumbados e se auto-propuseram a exame, a média é de 12,5 valores (mais 2,1 valores do que os 9,4 de 2007). Na Matemática B (prova realizada por 6731 alunos), a média de resultados foi de 11,4, uma subida em relação aos 7,5 valores verificada em 2007. A taxa de "chumbos" neste exame foi igualmente de sete por cento contra os 24 por cento de 2007 e os 30 por cento em 2006. Na Matemática Aplicada às Ciências Sociais o cenário é inverso: a média de 9,6 valores obtida este ano pelos 8533 alunos é inferior aos 11,5 valores do ano passado. Também a taxa de reprovações aumentou de sete por cento em 2007 para 13 por cento este ano. Após a realização das provas, em finais de Junho, a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) considerou que o exame nacional de 12º ano de Matemática A foi "mais fácil" do que o de 2007, alegando que a prova continha "um grande número" de questões de resposta "imediata e elementar". "A prova comporta um grande número de questões de resposta imediata e elementar, não aferindo conhecimentos matemáticos importantes, o que perfaz um total de cinco valores. Confirma-se a tendência já patente no exame nacional do 9º ano [...]", afirmava a SPM, num parecer sobre a prova. Num comunicado divugado hoje, o Ministério da Educação enaltece a "melhoria" nos resultados da Matemática, "que se verifica pelo terceiro ano consecutivo". Por outro lado, o ME diz que os resultados deste ano resultam do "efeito combinado de três factores": "mais tempo de trabalho e estudo por parte dos alunos acompanhado pelos professores [...] no âmbito do Plano de Acção para a Matemática", "provas de exame correctamente elaboradas, sem erros e com mais tempo de realização" e um "maior alinhamento entre o exame, o programa e o trabalho desenvolvido pelos professores". Cenário negro a português Dos 60.281 alunos que este ano fizeram a prova de Português oito por cento "chumbaram" (um acréscimo face aos cinco por cento verificados em 2007 e 2006). A média de notas tem vindo a decrescer: dos 11,6 valores de 2006 passou-se para 10,8 valores no ano passado e para os 9,7 valores deste ano. A taxa de reprovação a Português foi mesmo superior à das provas de Matemática A e B, tradicionalmente as que mais complicam a vida aos alunos. De acordo com o Ministério da Educação, que hoje divulgou os dados, o exame de Português "é o que abrange o maior número de alunos, sendo realizado pela quase totalidade dos que terminam o ensino secundário em cursos científico-humanísticos". Dado o "descréscimo nos resultados", indica a tutela, "importa equacionar medidas de reforço do trabalho dos alunos nesta disciplina, designadamente estendendo ao Ensino Secundário as dinâmicas do Plano Nacional de Leitura". Após a realização das provas, em finais de Junho, a Associação de Professores de Português (APP) apontou críticas à prova, considerando que o primeiro grupo da prova suscitou "algumas dúvidas", já que foi usada a terminologia linguística em revisão. Por outro lado, o texto final do exame poderá ter levado os estudantes a falar de Padre António Vieira no tema de desenvolvimento, quando o autor não integra o programa do 12º ano. Em comunicado, a associação considerou que "a prova está globalmente de acordo com o programa em vigor", mas apontou algumas notas, nomeadamente que o Grupo I "apresenta um grau de dificuldade elevado, não só devido à formulação não muito clara da pergunta 2, mas também devido ao excerto escolhido", de "Os Lusíadas". "Em relação ao II Grupo, existem algumas afirmações que poderão confundir o examinando sendo de referir a utilização de termos da TLEBS, que se encontra em reformulação, como por exemplo 'frase subordinada relativa' ou 'verbo auxiliar modal'", salientava a nota dos professores de português. Melhoria a Física e Química Quanto aos exames na área de Ciências, registou-se uma melhoria nos resultados da Física e Química A, que ainda assim registou uma taxa de "chumbos" de 22 por cento (a mais alta percentagem de reprovações em todos os exames). Estes resultados representam uma melhoria face a 200 (31 por cento de reprovações), mas são piores do que os de 2006 (21 por cento de chumbos)Os 31.760 alunos que fizeram esta prova obtiveram uma média de 9,3 valores (contra os 7,2 valores de 2007 e os 7,4 de 2006). Quanto a Biologia e Geologia, dos 39.890 alunos que fizeram a prova chumbaram oito por cento (uma melhoria face aos 12 por cento de 2007 e aos 9 por cento de 2006). A média de Biologia e Geologia passou de 9,1 valores em 2007 para 10,5 valores este ano. "Estas duas disciplinas - escreve o ME - são as que apresentam as mais elevadas correlações entre as classificações internas e externas (respectivamente 0,75 e 0,76)".

Os testes de Português podiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola

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04.07.2008 - Jornal Público

Hoje de manhã acordei a pensar no Ministério da Educação. Num mundo ideal, eu seria professora de Português, consistindo a minha missão em sujeitar a exame todos os membros do Gave (Gabinete de Avaliação Educacional), da DGIDC (Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular), do GEPE (Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação), da DGRHE (Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação) e da ANQ (Agência Nacional para a Qualificação) usando para o efeito uma “grelha” por mim elaborada.Este desejo surgiu depois de ter lido os programas, os exames e os critérios de avaliação em vigor. Com filhos crescidos e netos demasiado pequenos para frequentar a escola secundária, tenho andado arredada da matéria, embora, pelo que ia ouvindo, por esquinas e ruas, suspeitasse de que a asneira tivera carta de alforria. Há três semanas, durante uma sessão de autógrafos na Feira do Livro, conversei com algumas professoras do ensino secundário. O encontro despertou o meu apetite por analisar as provas de exame de Português. Havia muito – exactamente desde 1997, quando publiquei "Os Filhos de Rousseau" – que o não fazia. Não foi difícil obter, na Internet, o seu enunciado, ou antes, não foi difícil depois de o director deste jornal me ter enviado o devido link. Comecei pela Prova Escrita de Português do 12.º Ano de Escolaridade, a qual incluía um texto de Camões, outro de Luís Francisco Rebelo e outro de Guilherme Oliveira Martins. À cabeça, aparecia o extracto do Canto X de "Os Lusíadas", começando em “Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,/…” e terminando em “Que possuí-los sem os merecer”. Se a inclusão do maior poeta épico português não me admirou, o mesmo não posso dizer das perguntas sobre ele feitas.No final da primeira parte, pedia-se ao aluno que comentasse, num texto de 80 a 120 palavras, a experiência de leitura de "Os Lusíadas". Com medo de que esta se reduzisse a nada, fornecia-se, em epígrafe, as seguintes linhas de Maria Vitalina Leal de Matos: “Mas o texto é complexo e, por vezes até, contraditório. Em certos momentos exibe uma face menos gloriosa; aquela em que emergem as críticas, as dúvidas, o sentimento de crise.” Não só o excerto era desnecessário, como podia causar perplexidade, uma vez que o esquema a preto e branco inventado pelo Gave não se coadunava com “complexidades”. Por outro lado, pareceu-me extraordinário que, a alunos de 17 e 18 anos, se tivesse de fornecer um glossário, no qual se explicava, por exemplo, o que era o Olimpo. Que andaram os meninos a aprender ao longo de dez anos de aulas de História? Texto ideológicoNos Grupos II e III, transcrevia-se um texto de Luís Francisco Rebelo sobre "O Memorial do Convento" de José Saramago, e outro, de Guilherme Oliveira Martins, sobre o P. António Vieira. Do ponto de vista ideológico, o segundo era inócuo, o mesmo não se podendo dizer do primeiro. Depois de um elogio rasgado ao livro, L. F. Rebelo defendia coisas tão etéreas quanto a “a história não é uma categoria imutável e fixa, mas a contínua respiração da realidade, rio cujas águas nunca param e nunca se repetem”, desembocando o seu argumento no conceito de “luta de classes”, após o que remetia para o poema de Brecht, “Perguntas de Um Operário Letrado”, o qual servia de base para defender que "O Memorial do Convento reflectia o conflito entre um “rei beato” e os “servos da gleba”. A fim de serem facilmente classificadas, muitas questões eram de escolha múltipla, ou seja, a seguir a uma frase vinham quatro opções, o que nos leva a pensar que, segundo a ideologia vigente, há uma e apenas uma Verdade. Como se isto não fosse suficientemente arrepiante, algumas das supostas respostas certas estavam erradas: a vice-presidente da Associação de Professores de Português chamou imediatamente a atenção para a falta de acordo entre os colegas no que dizia respeito às respostas para o grupo II, 7. No último grupo, o III, era pedida ao aluno uma redacção, entre 200 e 300 palavras, sobre a “temática da dignidade humana e do respeito pelos direitos humanos no nosso tempo”. Visto tratar-se de escrever sobre o que passa no século XXI, não entendo a vantagem da inclusão do texto do actual presidente do Tribunal de Contas relativo ao século XVII. Pelos vistos, o contexto temporal desapareceu da cabeça destes pedagogos.Vale a pena abordar a filosofia subjacente à elaboração do exame. Claro que podia parafrasear algumas passagens do programa da cadeira ou até fornecer um resumo do texto — com 76 páginas — mas isso teria a desvantagem de afastar o leitor da linguagem de quem planeia o ensino em Portugal. Antes de saltar estes parágrafos, lembre-se, por favor, que o esforço que lhe peço não é nada comparado com aquele a que os professores são diariamente sujeitos. Aqui vão alguns extractos retirados do "Programa de Português para os 10.º, 11.º e 12º anos, dos Cursos Científico-Humanísticos e Cursos Tecnológicos", coordenado por Maria da Conceição Coelho, a qual foi, para o efeito, assessorada por João Seixas, José Pascoal, Maria Joana Campos, Maria José Grosso e Maria de La Salette Loureiro. Eis o começo: “O Português é uma disciplina da formação geral comum aos cursos científico-humanísticos e tecnológicos do ensino secundário que abrange os três anos do ciclo. Visa a aquisição de um corpo de conhecimentos e o desenvolvimento de competências que capacitem os jovens para a reflexão e o uso da língua materna. Em contexto escolar, esta surge como instrumento mas também como conteúdo ou objecto de aprendizagem, tornando-se fundamental, neste ciclo, o aprofundamento da consciência metalinguística e a adopção de uma nomenclatura gramatical adequada que sirva o universo de reflexão.” Abordando a parte 2, eis o que encontramos: “Este programa pretende ser um instrumento regulador do ensino-aprendizagem da língua portuguesa nas componentes Compreensão Oral, Expressão Oral, Expressão Escrita, Leitura e Funcionamento da Língua, instituídas como competências nucleares desta disciplina. (…) Para realizar a interacção entre as diferentes competências, seleccionaram-se vários tipos de textos em que há uma evidente articulação entre protótipos textuais (narrativo, descritivo, argumentativo, expositivo-explicativo, injuntivo-instrucional, dialogal-conversacional) e textos das relações dos domínios sociais de comunicação (relações educativas, relações profissionais, relações com os media, relações gregárias e relações transaccionais). Desta forma, a tipologia textual prevista para o ensino secundário adquire uma dimensão praxiológica, permitindo abordar textos que, cabendo numa das categorias de protótipos textuais, preparam os jovens cidadãos para uma integração na vida sociocultural e profissional.” Máquina retórica em ritmo automáticoNo que diz respeito à escrita, eis o que têm a dizer: “Quanto à expressão escrita, pretende-se que seja instituída uma oficina de escrita, em que sejam trabalhadas as tipologias textuais previstas, a partir das quais se desenvolverão as competências naturalmente envolvidas neste tipo de actividade. Propõe-se que esta oficina seja entendida como um trabalho laboratorial, constituindo um espaço curricular em que a aprendizagem e a sistematização de conhecimentos sobre a língua e os seus usos se inscrevem como componentes privilegiadas.” Sobre a leitura, afirma-se: “No âmbito da leitura, promove-se o acesso a textos de várias tipologias, preferencialmente relacionados com a área de formação ou com o interesse dos alunos, bem como a textos dos domínios transaccional e educativo, que contribuem para a formação da cidadania. A leitura do texto literário deverá ser estimulada pois contribui decisivamente para o desenvolvimento de uma cultura geral mais ampla, integrando as dimensões humanista, social e artística, e permite acentuar a relevância da linguagem literária na exploração das potencialidades da língua. Nesse sentido, são seleccionados para leitura obrigatória autores/textos de reconhecido mérito literário que garantam o acesso a um capital cultural comum.” O programador acrescenta: “O convívio com os textos literários acontecerá também quando se puserem em prática contratos de leitura a estabelecer entre professores e alunos.” Que significa um “contrato de leitura” que, ainda por cima, “acontecerá”? Mistério.Do capítulo dos objectivos, seleccionei apenas três frases, as mais representativas: “Desenvolver capacidades de compreensão e de interpretação de textos/discursos com forte dimensão simbólica, onde predominam efeitos estéticos e retóricos, nomeadamente os textos literários, mas também os do domínio da publicidade e da informação mediática; utilizar métodos e técnicas de pesquisa, registo e tratamento de informação, nomeadamente com o recurso às novas tecnologias de informação e comunicação (TIC); desenvolver práticas de relacionamento interpessoal favoráveis ao exercício da autonomia, da cidadania, do sentido de responsabilidade, cooperação e solidariedade.” Modernaço, não é? A máquina retórica prossegue em ritmo automático: “A escola deverá promover, no âmbito da consciência linguística, o conhecimento do vocabulário, da morfologia, da sintaxe e da fonologia/ortografia; no que respeita a competência discursiva/textual, o conhecimento das convenções que subjazem à produção de textos orais ou escritos que cumpram as propriedades da textualidade; quanto à competência sociolinguística, o conhecimento das regras sociais para contextualizar e interpretar os elementos linguísticos e discursivos/ textuais; quanto à competência estratégica, o uso de mecanismos de comunicação verbais ou não verbais como meios compensatórios para manter a comunicação e produzir efeitos retóricos.” Estão fartos? Desculpem, mas não resisto a outra citação: “A aula de Português (…) é, pela especificidade da disciplina, um espaço de transversalidade cultural e linguística, na sua condição de suporte estruturalmente integrado nos outros saberes. (…) Para que os alunos desenvolvam o hábito de ler, propõe-se a criação de um espaço dedicado à leitura recreativa de textos de reconhecido mérito literário, de autores maioritariamente contemporâneos, das literaturas nacional e universal, capazes de transformar os alunos em leitores mais assíduos, quer ao longo do percurso escolar, quer ao longo da vida.” Note-se a aberrante hierarquia: “Nesse espaço, deve ser dada importância aos gostos e interesses dos alunos, cabendo ao professor a sua orientação, sugerindo um leque diversificado de textos a ler. O professor deve constituir-se como entidade facilitadora de práticas de leitura (sublinhado meu) oferecendo aos alunos a possibilidade de encontro com textos interessantes e motivadores, procurando, contudo, suscitar respostas por parte dos leitores durante e após a leitura desses textos.” Só há duas explicações para o programa de Português: ou esta gente é doida ou pretende humilhar os professores.Não é preciso ir longe para vermos em que fontes andaram os “especialistas” a beber. Basta olhar alguns dos títulos da bibliografia aconselhada: Lussier, D., "Évaluer les Apprentissages dans une Approche Communicative", Paris, Hachette, 1992, Tochon, F.V., "A Língua como Projecto Didáctico", Porto, Porto Editora, 1995, Gohard-Radenkovic, A., "L’Ecrit. Stratégies et Pratiques", Paris, Clé international, 1995, Broncart, J.-P., "Activité Langagière, Textes et Discours", Lausanne, Delachaux et Niestlé S.A., 1996 ou Weaver, C., "Teaching Grammar in Context", Portsmouth, Boynton/Cook Publishers, Inc, 1996 . Todo e qualquer livro, da "La Littérature en Péril" de T. Todorov a "On Looking into the Abyss" de G. Himmelfarb, que ponha em causa a ortodoxia foi banido. Baixar o insucesso por via burocráticaVoltando ao exame, intrigou-me a ênfase nos autores contemporâneos. Um anjo da guarda explicou-me o motivo. A 4 de Outubro último, através da portaria 1322/2007, Valter Lemos determinou que, este ano, os exames de Português do 12.º ano passassem a ter como matéria, não o que fora dado ao longo do ciclo, como sucedia, mas apenas o leccionado no 12.º ano. Tal como sucedera no exame de Matemática, a mutilação foi deliberadamente planeada, no sentido de tornar mais simples os exames. Pelo meio, desapareceram autores como Eça de Queiroz e Cesário Verde – declaro, é evidente, um interesse pessoal – substituídos por Luís de Sttau Monteiro e José Saramago, cujas obras, "Felizmente Há Luar" e "O Memorial do Convento", são de leitura obrigatória (dada a fama internacional, Fernando Pessoa manteve-se). Em suma, dos clássicos, apenas Camões.Como qualquer professor sabe, os alunos apenas estudam o que vem para exame, ficando indignados quando lhes “sai” uma coisa não estipulada. A portaria 1322/2007 deu-lhes autorização para esquecer o que eventualmente tivessem aprendido nos dois anos anteriores. Quem viu os telejornais, não pode ter deixado de notar as declarações no sentido de que o exame de Português tinha sido “canja” e que portanto o futuro iria ser risonho. Não, não vai. Porque os alunos, que hoje ostentam uma face optimista, não tardarão a chorar ao verificarem que não arranjam emprego.A responsabilidade pelo desastre – porque é de um desastre que se trata – deve ser atribuída a quem ocupa o poder, isto é, em primeiro lugar, a Maria de Lurdes Rodrigues, uma ministra cujo objectivo passou a consistir em baixar o insucesso escolar por via burocrática. Qualquer dia até o meu neto, de seis anos, é capaz de responder satisfatoriamente às provas do final da escolaridade. Uma vez que já sabe escrever o seu nome e que responde prontamente a quem lhe pergunta quanto são dois mais dois, penso que não vale a pena matriculá-lo na 1ª classe, deixando-o no recreio até aos 15 anos, altura em que se poderá apresentar a exame como aluno externo. Nem a família terá de se dar à maçada de o levar à escola nem o Estado será forçado a gastar dinheiro com a sua educação. Aliás, foi isso que, após ter realizado o exame de Português, nos disse Felipe Hasslocher: “Não estudei; a Português ou se sabe ou não vale a pena estudar” ("Diário de Notícias", 19-06-2008). De facto, é assim: ou se aprende em casa ou não vale a pena ir às aulas.Mas voltemos aos exames. A disciplina de Português, obrigatória para todos os alunos que frequentam o 12.º ano, não é a única que aborda temas literários. Existe uma outra cadeira, optativa, de Literatura Portuguesa, resultado da divisão entre a língua e as obras. Se não é a ler os grandes escritores que se aprende a escrever, então como é? Mas disto não querem saber as luminárias. O programa é, de novo, coordenado pela guru Maria da Conceição Coelho, assessorada, desta feita, por Maria Cristina Serôdio e Maria Joana Campos, não sendo, por conseguinte, necessário voltar a cansar o leitor com citações. Quero apenas notar que a bibliografia, além de tendenciosa, contém lacunas. Manda-se os professores lerem R. Andrews, "The Problem with Poetry", Piladelphia, Open University, 1991 e M. Bores et alia, "Estética Teatral: textos de Platão a Brecht", Lisboa, Fundação Gulbenkian, 1996, mas a "História da Literatura Portuguesa", de A. J. Saraiva e Óscar Lopes, não aparece, como não aparece um único livro de João Gaspar Simões. E, por favor, não me venham dizer que são livros datados.A prova de Literatura Portuguesa para os 11.º e 12.º anos é melhor do que o programa, até porque os escritores escolhidos para análise são Camões e Camilo Castelo Branco. Dado os adolescentes serem particularmente sensíveis ao tema — razão menor, mas que aceito —, a inclusão do soneto que começa com “Amor é um fogo que arde sem se ver…” e de um extracto do Amor de Perdição não me pareceu má ideia. Trata-se de clássicos cujo mérito ninguém disputa. No Grupo III, pedia-se aos alunos para, baseando-se na sua experiência de leitura da lírica trovadoresca, escreverem um texto sobre o tema do sofrimento amoroso nas cantigas de amor. O exame mais bem elaborado é aquele a que um menor número de alunos se sujeitou. Se calhar, uma coisa está relacionada com a outra.Propaganda da "nomenklatura" europeiaNo final, lembrei-me de ver a prova de Língua Portuguesa do 9.º ano, um exame a que foram sujeitos dezenas de milhares de estudantes. Do programa, simplório, não reza a História. Desta feita, o escândalo é o próprio exame. O principal texto – o A – versa a União Europeia. Retirado da Internet, é um artigo de propaganda. Espero que ninguém tenha a tentação de me vir explicar, a mim, que, nos idos de 1960, queimei as pestanas a tentar perceber o que, na opinião de Althusser, era um AIE (Aparelho Ideológico do Estado), e que, na década seguinte, se deliciou a ouvir o “We don’t need no education” dos Pink Floyd, que a escola transmite valores. Mas uma coisa é estar consciente do facto, outra aceitar que nela se transmita propaganda pura e dura. Ora, é isto que acontece nesta prova. Não só os meninos foram sujeitos à ideologia veiculada pela "nomenklatura" europeia, como o que lhes era pedido se limitava a comentários de índole escolástica. Eis o início: “A União Europeia (EU) está empenhada no desenvolvimento sustentável. Para tal é necessário um equilíbrio cuidado entre prosperidade económica, a justiça social e um ambiente saudável. De facto, quando visados em simultâneo, estes três objectivos podem reforçar-se mutuamente. As políticas que favorecem o ambiente podem ser benéficas para a inovação e competitividade. Por sua vez, estas impulsionam o crescimento económico, que é vital para atingir os objectivos sociais.” Se eu tivesse sido sujeita a este exame, reprovaria: não porque tivesse lido mal o que lá vinha, mas por saber que algumas das frases tidas como incontroversas são mais do que duvidosas. Dou um exemplo: “Inquéritos realizados têm demonstrado invariavelmente que a vasta maioria dos cidadãos da EU espera que os responsáveis políticos prestem tanta atenção à política ambiental como à política económica e à social.” Em que países se efectuou tal sondagem? Qual a amostra escolhida? Que margem de erro tinham as respostas? Ninguém sabe. Finalmente, a classificação das respostas – com um “V”, de verdadeira, ou “F”, de falsa – revela uma mente totalitária.Seguia-se um texto de José Saramago sobre o sorriso. Não vou falar do suposto mérito literário do “nosso” Nobel, mas desejo reiterar que me parece absurdo fomentar a leitura com base em autores contemporâneos. Nem estes são de leitura acessível nem, mais importante, sabemos se têm mérito: um grande escritor é-o quando resistiu à erosão do tempo. Na segunda metade do século XIX, a elite nacional decidiu que o maior poeta português era Tomás Ribeiro, o qual, em 1862, publicara um poema intitulado "D. Jaime". O mais conceituado crítico da época, António Feliciano de Castilho, teve o desplante de considerar a obra como mais importante para o estudo da língua portuguesa do que "Os Lusíadas", o que não suscitou arrepios. Mas alguém é hoje capaz de ler, sem se rir, as linhas com que abre o "D. Jaime": “Meu Portugal, meu berço de inocente,/ lisa estrada que andei débil infante, variado jardim do adolescente,/ meu laranjal em flor sempre odorante/…”? Quem me garante que José Saramago não é o Tomás Ribeiro do século XX? Fim da autonomia dos docentesFaltava-me ler, com atenção, as instruções que o Ministério enviou aos professores encarregues de corrigir os exames. Escolhi o caso do exame de Português do 12.º ano. O que vi – quadradinhos com “níveis de desempenho”, listas com os “cenários de resposta” e grelhas com a “correspondência correcta” – deixou-me estarrecida. É certo que as instruções foram transcritas pelos jornais, mas, desacompanhadas dos exames, o leitor não tinha oportunidade de se aperceber da monstruosidade do esquema.Não contente com a interferência na vida das escolas, o poder central entendeu por bem vigiar os examinadores de forma maníaca, não os deixando desviar uma linha do que os burocratas consideram “a” resposta correcta. A fim de que não se pense que sou tendenciosa, cito a primeira pergunta, relativa a "Os Lusíadas", na qual se pedia ao aluno que expusesse, sucintamente, o conteúdo das três primeiras estâncias. Nos critérios de avaliação enviados às escolas, especificava-se existirem três níveis de desempenho, o N3, no qual se expunha o conteúdo das três primeiras estâncias – a que se deveria dar 9 pontos – o N2, no qual se expunha o conteúdo de duas estâncias – que mereceria 6 pontos – e o N1, no qual se expunha apenas o conteúdo de uma das estâncias – ao qual se deveria dar apenas 3 pontos. É isto normal? Na pergunta seguinte, depois de se ter afirmado que a “Fama” desempenhava um papel fundamental no processo de imortalidade, pedia-se ao aluno que referisse “três dos aspectos evidenciados nesse desempenho, fundamentando a sua resposta com citações do texto”. Seguia-se uma coisa designada como “cenário de resposta”, cujo objectivo era explicar aos professores o que eles sabem ou deviam saber: “A resposta deve contemplar os seguintes aspectos: a “ilha” (incluindo as Ninfas e Tétis) é o prémio, a recompensa dada aos marinheiros; os “deleites” são os triunfos, os louros (1ª estância); os prémios concedidos pela antiguidade eram atribuídos a quem fazia o difícil percurso da virtude (2ª estância); os deuses não passam de humanos que praticaram feitos de grande valor; daí terem recebido o prémio de imortalidade (3ª estância). Seguiam-se os critérios de avaliação, N3, N2 e N1, com a usual pontuação decrescente. Na terceira pergunta, pedia-se, entre outras coisas, ao aluno para identificar a apóstrofe presente na estância 92. Lá voltavam a aparecer os “critérios específicos de classificação”, com a respectiva pontuação. No “cenário de resposta”, especificava-se que a resposta certa era “ó vós que as famas estimais”. Se um aluno respondesse, por exemplo, “ó vós” – o que estaria certo –, a resposta teria de ser considerada errada. É isto aceitável?Demorei-me a analisar este texto porque, de entre todos – e como viram a escolha não é fácil – foi o que mais me escandalizou. Deste novo mundo, labiríntico, burocrático, totalitário, desapareceu a autonomia dos docentes, o dever de julgar e até o estímulo para separar os alunos marrões dos criativos. Se as perguntas de escolha múltipla já me tinham irritado, mais furiosa fiquei ao ver que o método era aplicado ao que antigamente se chamava uma redacção. Em grande medida, estas loucuras derivam da filosofia de avaliação expressa na obra de Valter Lemos, "O Critério do Sucesso: Técnicas de Avaliação da Aprendizagem" (1986). Se isto choca nas chamadas Ciências Exactas, o facto é, nas Humanidades, uma anormalidade, uma vez que analisar um texto literário não é o mesmo que resolver um problema de Química. Nos anos 1960, a crítica literária teve de se defrontar com o marxismo e, depois, e em rápida sequência, com o estruturalismo, o post-modernismo e a semiótica, correntes demasiado exotéricas para que delas possa, ou queira, falar. A partir de então, a crítica literária foi tida como uma espécie de ciência. Tudo ficou de pernas para o ar, não me devendo eu espantar que a Língua Portuguesa tenha sido separada da História da Literatura nem que a análise do texto o seja dos respectivos autores. A coroar o disparate, o ministério optou por elaborar exames cujo objectivo é escamotear o facto de estarmos a formar uma geração incapaz de pensar, de falar e de escrever. À volta da elite burocrática sediada no Ministério da Educação, existe hoje um enxame de “especialistas” que determina o que é, ou não, “correcto”. Os exames que elaboram poderiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola, nos quais os alunos fariam ao acaso umas cruzinhas, sendo estas posteriormente contadas por uma máquina. O actual secretário de Estado da Educação e os seus anões não pertencem à tradição humanística que fez a glória da cultura ocidental, mas a uma corrente pedagógica que vê o aluno como um robot e o professor como uma máquina registadora. O Português não é a sua pátria.

David Justino defende reformas profundas no sector da Educação

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02.07.2008 - Jornal Público

Portugal continua a precisar de reformas profundas no sector da Educação e de estabilidade e continuidade de políticas, defende David Justino, ex-ministro com esta pasta, no livro “Quatro Décadas de Educação” que será apresentado esta tarde.“O estado a que se chegou [na Educação] não se compadece com uma política de pequenos passos”, escreve David Justino, ministro da Educação no XV Governo Constitucional (Abril de 2002 a Julho de 2004), de Durão Barroso.O livro reúne depoimentos de vários titulares da pasta, incluindo Inocêncio Galvão Telles (1962-1968), Manuela Ferreira Leite, Marçal Grilo e Maria de Lurdes Rodrigues.“A experiência ensinou-nos que ‘mais educação’ nem sempre é compatível com ‘melhor educação’”, escreve David Justino, actual conselheiro do Presidente da República para os Assuntos Sociais, lamentando que “a qualidade da educação não acompanhou o enorme esforço de financiamento que foi realizado”."A Educação em Portugal tem, entre muitos outros problemas, um problema de governabilidade e de sustentabilidade das políticas educativas", destaca o ex-ministro sobre as dificuldades que teve de enfrentar ao implementar reformas.